E o POUS?

Que faz pelo seu lado o POUS, secção portuguesa do centro saído do “IXº congresso” ilegítimo da IVª Internacional?

Rompendo com toda a sua tradição, o POUS decidira, para as legislativas de 2015, participar na plataforma eleitoral “Livre”, um agrupamento pequeno-burguês pró-UE que se dissociara do Bloco de Esquerda.

Relativamente ao orçamento do governo PS, corrigido pela Comissão Europeia e apoiado pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda, o POUS escreve num comunicado que o orçamento

é a expressão de uma maioria de esquerda “de mãos atadas” em relação ao indispensável investimento no aparelho produtivo e nos serviços públicos.

A mobilização unida dos trabalhadores com os seus sindicatos é o elemento determinante para “desatar” esse nó. Não para regressar a divisão entre os partidos que têm o mandato para defender os interesses dos trabalhadores e acabar com a austeridade, mas sim para reforçar a sua união com o conjunto do povo que os elegeu. E assim impedir que a Direita volte ao poder.

Ou seja, o POUS critica o orçamento porque ele atará as mãos aos dirigentes dos partidos de esquerda no que diz respeito aos investimentos necessários. E fixa à mobilização dos trabalhadores o objectivo de assegurar a unidade entre as direcções do PS, do PCP e do Bloco de Esquerda e destas com o “conjunto do povo”, a fim de desatar o nó que lhes ata as mãos. Parece que isso impediria a Direita de voltar ao poder.

Devem os trabalhadores, entretanto, meter ao bolso as suas próprias reivindicações? Devem abster-se de pedir a anulação de todas as medidas que têm vindo a degradar o Código do Trabalho se os dirigentes dos partidos no poder indicarem que a “situação económica” não o permite? Haverá que sacrificá-lo à unidade entre os dirigentes e entre estes e o conjunto do povo?

A verdade é que a reversão da austeridade é bem parcial. Numerosas medidas que degradaram significativamente o Código do Trabalho debaixo do governo de direita continuam em vigor. De futuro, devem os trabalhadores, tantos dos quais recebem um salário mínimo de pouco mais de 500€, “levar em linha de conta a situação económica” quando os dirigentes a invocarem?