Vinte mil milhões de dólares. É o que chegou a “valer” a empresa Farfetch, que reuniu as delícias da imprensa económica e outra, feliz por poder usar palavras como “unicórnio” e “startup” na mesma linha de “português”. O genial empresário português, um tal J. Neves, pusera, no entanto, a sede fiscal da Farfetch em Londres, por causa das coisas…
Soube-se no final do ano passado que, de repente, fora tudo por água abaixo. Uma empresa coreana acabou por comprar a Farfetch por menos de… 500 milhões. As acções reduziram o seu fantástico valor a menos de um por cento do que chegaram a “valer”.
Era tudo capital fictício, característico do moderno capitalismo especulativo. Quem “investiu” nas acções e não as vendeu a tempo, ficou a zero. Já os mais de 6.000 trabalhadores, não são acções que perdem. É o trabalho.
Pouco tempo depois da venda, o fundador saiu para ir à vida dele. Não ficou pobre.
Anunciou-se em Fevereiro que pelo menos um terço dos empregados em Portugal, mais de mil, seriam despedidos para já. Começaram de imediato as manigâncias patronais para se desfazerem dos trabalhadores da maneira mais barata possível. Ofereceram-se “rescisões por mútuo acordo” com indemnizações ligeiramente superiores ao mínimo legal (já muito baixado por sucessivas revisões do Código do Trabalho), mas obrigando os trabalhadores a renunciarem a todos os seus restantes direitos. Quem não aceita, vai para o despedimento colectivo a mínimos…
Os trabalhadores, com medo de represálias, não falam.
É iniciativa, e é, digamos assim, liberal.