Chamámos a atenção, no anterior número d’O Trabalho, para uma nova forma de propaganda eleitoral que, tudo indica, terá ajudado muito a AD de L. Montenegro a “ganhar” as eleições legislativas: a aldrabice, no caso, a aldrabice fiscal.
Montenegro e acólitos proclamaram alto e bom som que, se ganhassem, iam dar um alívio fiscal às chamadas classes médias no valor global de 1.500 milhões de euros.
Centeno, o homem do Banco Central Europeu, e outros horrorizaram-se: aqui d’el rei que é irresponsável, que lá se vão o défice e a dívida por água abaixo!
Afinal, depois das eleições, com a ajuda do subtil verbo “perfazer”, verificou-se que os 1.500 milhões eram só 200; o resto eram medidas adoptadas pelo governo Costa no orçamento anterior…
Pela desfaçatez, pensava-se este método reservado aos Venturas e quejandos populistas.
Só que… parece que o método funcionou!
E, sendo um princípio do liberalismo (e possivelmente do “ruralismo”) que o que funciona é útil e vice-versa, a aldrabice pura e simples passou a método geral de governo.
Os 200 e tal milhões acrescentados eram, além disso, para devolver milhares de euros ao pequeno estrato de titulares de rendimentos de vários milhares de euros mensais, para “completar” o alívio de duas ou três bicas por semana concedido aos escalões mais baixos do IRS. Entretanto, as medidas fiscais do governo foram chumbadas, aprovando o parlamento um pacote socialmente menos escandaloso, apresentado pelo PS e que teve a abstenção do Chega.
Mas o barrete mais recente enfiou-o o primeiro ministro quando recebeu com pompa e circunstância Zelensky, o chefe da oligarquia ucraniana e ordenança da NATO para a guerra naquele país. Depois de Sánchez, o primeiro ministro do Estado espanhol, ter anunciado a sua avantajada “contribuição” de 1.100 milhões em canhões e munições, e a Bélgica, de quase mil milhões, o nosso rural primeiro ministro não quis ficar atrás; anunciou, ufano, que o governo decidira dar 126 milhões à “Ucrânia” (leia-se: à NATO), para continuar a matança de ucranianos e russos.
Desta vez, não demorou tanto a destapar a careca: o que o governo decidiu foi acrescentar 26 milhões à verba de 100 milhões antes atribuída por Costa…
Não muito diferente, o método usado nas medidas “a favor dos estudantes e da habitação”. Estas últimas, em particular, na realidade destinadas a poupar dinheiro a uma pequena minoria endinheirada o suficiente para poder comprar casas de centenas de milhares de euros.
Já com os trabalhadores, o método é outro: a administração da TAP, por exemplo, está pressionada a “renegociar” acordos com vários sindicatos (ver artigo sobre greve do SITEMA) – já assinados e com força legal! -, por quebrarem um tal “rácio limite” indicado nas ordens estritas de Bruxelas para a TAP…