Porque se demitiu Gantz do gabinete de guerra israelita?

Não foi por o exército israelita “libertar” quatro reféns à custa de um banho de sangue que alguma coisa mudou. Benny Gantz, o homem dos americanos no gabinete de guerra israelita, demitiu-se quando Netanyahu rejeitou o seu plano, que previa a Faixa de Gaza ser “gerida” por uma “administração civil americana-europeia-árabe-palestiniana, mantendo Israel o controlo geral da segurança” (Al Jazeera, 9 de Junho). Isto, na véspera de uma visita do Secretário de Estado norte-americano, “com Washington a tentar fazer pressão sobre Israel e o Hamas” (Reuters, 7 de Junho). Biden financiou e incentivou o genocídio, mas agora, a poucos meses das eleições presidenciais, precisa de recuperar o controlo… e proteger Israel. Por isso, pressiona toda a gente, Netanyahu, o Hamas. “O Qatar ameaça expulsar os dirigentes do Hamas se estes recusarem o acordo de cessar-fogo (…), a campanha de pressão sobre vários países que os americanos estão a fazer não tem precedentes”, salienta o diário libanês L’Orient-Le Jour (7 de Junho). A saída de Gantz fez pender a balança ainda mais brutalmente para a direita: “O ministro de extrema-direita Itamar Ben Gvir exigiu, aliás, entrar no gabinete de guerra” (L’Orient-Le Jour, 9 de Junho). Segundo The Economist (9 de Junho), tudo isto vai agravar “a crise com os americanos, que não tem precedentes”. A administração Biden está, assim, a fazer pressão máxima sobre Netanyahu para o obrigar a aceitar a “solução” americana. O Wall Street Journal (9 de Junho) revela que Biden está a finalizar um acordo com a Arábia Saudita: “normalização” das relações diplomáticas com Israel e algumas promessas em vista de um hipotético “Estado palestiniano” em troca do reforço da protecção militar americana aos sauditas. A clivagem entre Gantz e Netanyahu marca um novo patamar no conflito que mina as cúpulas do aparelho de Estado sionista: “Não permitam que o nosso povo se dilacere”, diz Gantz, enquanto Netanyahu avisa que “Israel está numa guerra existencial” (Times of Israel, 9 de Junho).