Eleições “europeias”: análise dos resultados e conclusões

As eleições “europeias” em Portugal foram “ganhas” pela abstenção

5.432.132 eleitores (60%) abstiveram‐se ou votaram branco ou nulo. Emitiram voto válido cerca de 3.840.000. Nas legislativas, há exactamente 3 meses, as proporções eram invertidas: 3.130.190 abstiveram‐se ou votaram nulo ou branco, mais de 6 milhões votaram. Nas anteriores “europeias”, abstiveram‐se ou votaram nulo ou branco 70% dos eleitores.

Houve, portanto, pelo menos 2.300.000 eleitores que, depois de, há três meses, terem votado nas legislativas, tomaram a decisão consciente de não votar nas europeias.

Diz‐se que o PS “ganhou”. Teve 1.261.417 votos. São mais 158 mil votos do que obtivera nas anteriores eleições para o PE, há cinco anos (2019); mas são menos 496 mil votos do que tivera nas recentíssimas legislativas de há três meses (‐28%)…

A AD teve 1.221.412 votos. São mais 183 mil votos do que em 2019; mas menos 585 mil do que em Março deste ano (‐32%: em 3 meses, um terço dos eleitores da AD deixou de votar nela).

O Chega, com 386.627 votos, teve menos 726 mil votos do que nas legislativas de Março deste ano
(‐66%!) Perdeu dois terços dos votos em 3 meses e ficou praticamente com os mesmos que tivera nas legislativas de 2022 (em 2019, para o PE, não concorrera ainda).

Dizem que o “grande vencedor” foi a IL: teve 353.689 votos, ou seja, 3,8% do eleitorado; progrediu 41 mil votos relativamente aos 312 mil conseguidos nas legislativas de Março (+13%; nas europeias de 2019, tivera um resultado residual).

O Bloco de Esquerda teve 165 mil votos, metade do que nas anteriores “europeias” e menos 110 mil (‐40%) do que nas legislativas de Março. Foi um dos seus piores resultados eleitorais de sempre.

O PCP, com 162 mil votos, manteve o seu declínio paulatino. Baixou 41 mil (‐ 20%) das legislativas de Março, 65 mil das “europeias” de 2019.

Que conclusões?

1. A primeira conclusão é óbvia. Apesar dos instantes apelos de todos os partidos, imprensa e televisão, das instâncias patéticas de Marcelo na véspera, a grande maioria do eleitorado “boicotou” as “europeias”. Os comentadores regozijaram‐se com a pequena diminuição da abstenção. Ora os votos válidos foram 40% do total (em 2019, cerca de 30%), o que significa que três quintos do eleitorado total não votaram, que o partido mais votado (o PS) o foi por 13,5% do eleitorado… a AD, por 13,2%; o Chega, por 4,1%, e a Iniciativa Liberal por 3,8%.

As razões para votar invocadas pelos partidos e instituições nos seus apelos eram sempre as mesmas: as coisas mais importantes para o país decidem‐se na União Europeia (verdade!…), por isso era preciso votar para a “Europa”.

Tais apelos mendazes ocultavam, porém, dois pequenos pormenores: primeiro, que o Parlamento Europeu não é onde essas coisas importantes se decidem; quem detém todo o poder são as instituições não eleitas, o Banco Central Europeu, a Comissão, o Conselho; segundo, que o povo nunca foi consultado sobre esse rapto da sua soberania, aliás visceralmente anticonstitucional, que torna as próprias eleições parlamentares nacionais num exercício de cada vez maior futilidade.

Votar para o mal‐chamado “Parlamento Europeu” era, pois, participar numa vasta operação de lavagem de fachada da antidemocrática União Europeia do capital com um detergente “democrático”‐ e quem pode criticar os povos europeus por não o quererem fazer!

2. A segunda conclusão é que a votação na extrema‐direita, no partido de Ventura, não é uma votação “de classe” coesa, representativa de eleitores que querem conquistar o poder para impor os seus interesses específicos, mas uma votação de confusa rejeição de todos os que, lá em cima, colaboram na manutenção de um sistema inamovível. É, pois, muito instável, e tanto mais, quanto mais claro vai ficando que Chegas e quejandos são parte absolutamente integrante desse sistema de guerra, exploração e pilhagem.

3. A terceira conclusão é que os trabalhadores e a juventude não precisam de mais partidos que afinem pelo diapasão das guerras imperialistas e colaborem nas mesmas medidas anti-operárias impostas por sucessivos governos, cumprindo as ordens, critérios e políticas de Bruxelas, usem eles de linguagem mais ou menos à “esquerda”, mais ou menos “ecológica”, mais ou menos “humanista”. Daí o declínio aparentemente imparável do Bloco de Esquerda e do PCP ‐ e é questão de tempo até chegar a vez do novo avatar, o “Livre”.

Do que os trabalhadores e a juventude, sim, urgentemente precisam é de um partido de luta de classes, que mantenha a absoluta independência da classe trabalhadora do Estado e do patronato e se bata por um governo dos próprios trabalhadores, que rompa com o colete de forças das “regras europeias”, exproprie o grande capital e ponha os recursos da nação ao serviço de todos.

É nesse combate que nos empenhamos e para ele chamamos todos os lutadores, e grupos de lutadores sindicais e políticos, do movimento operário e da juventude.