Biden e Trump discutiram a situação internacional. Biden defendeu a sua política de guerra contra a Rússia, através da NATO, na Ucrânia. À sua maneira, reconheceu que se trata de uma guerra imperialista que opõe os oligarcas de Washington aos russos que querem “restaurar o que fazia parte do império soviético, e não apenas um pedaço da antiga Ucrânia“. Biden justificou a sua política do ponto de vista dos capitalistas americanos: “Todo o dinheiro que damos à Ucrânia são armas que fabricamos aqui nos Estados Unidos“. Tem bastante razão: as centenas de milhar de milhões de dólares de “ajuda à Ucrânia” dos Estados Unidos ⎼ mas também dos seus “aliados” na NATO e na União Europeia ⎼ beneficiam principalmente os capitalistas americanos, a começar pela indústria de armamento.
Trump, por seu lado, considera que as somas investidas na guerra na Ucrânia são demasiado elevadas para os Estados Unidos. Para ele, não é a América que deve pagar, mas antes de mais os países da NATO, nomeadamente na Europa: “Estamos a pagar as contas dos outros“, lamentou.
Para Trump, o principal alvo do imperialismo americano não é a Rússia… é a China. “Com este tipo“, disse Trump, referindo-se a Biden, “temos o maior défice com a China“. Trump, acusado por Biden de complacência com Putin, atirou ao rival: “Ele é pago pela China, é um candidato da Manchúria. Recebe dinheiro da China”. Trump quer introduzir pautas aduaneiras de 10% sobre todos os bens que entram nos Estados Unidos, para “forçar os países que nos andam a roubar há anos, como a China (…), a pagar-nos muito dinheiro“. Também aqui, é a defesa dos interesses de Wall Street que orienta o discurso de Trump.
Quanto ao apoio ao genocídio perpetrado por Israel, nota a Foreign Policy (28 de Junho), “ambos os candidatos deram, previsivelmente, apoio inabalável a Israel, embora em graus diferentes e de formas diferentes“, com Biden a defender o seu historial de entregas de armas aos israelitas e Trump a propor “deixá-los acabar o trabalho“.
Seja quem for que ganhe em Novembro, o próximo ocupante da Casa Branca vai continuar e agravar a política de guerra. Contra a Rússia, contra a China, contra o povo palestiniano… e contra os trabalhadores americanos, que os dois representantes do capitalismo não pouparam durante as respectivas presidências.
Quanto à forma: o debate assemelhou-se a uma batalha de trapeiros, com Biden a dizer a Trump que tinha sido acusado de “dormir com uma actriz porno” e Trump a gozar com a reduzida capacidade intelectual de Biden. É verdade que as repetidas ausências do candidato causaram tal pânico no topo do Partido Democrático, que uma instituição como o New York Times apelou a que se encontrasse urgentemente outro candidato para o substituir. Os trabalhadores americanos não têm interesse em apoiar nenhum dos dois candidatos do capital. São dois candidatos à imagem do sistema capitalista falido que representam.