GRÃ-BRETANHA: Derrota contundente do Partido Conservador

No dia 4 de Julho, os eleitores britânicos correram com o governo conservador, que há quatorze anos governava o país.

A derrota dos Conservadores era esperada, mas o seu resultado eleitoral foi o pior desde o início do século XX. A maior parte dos ministros foi derrotada. O primeiro-ministro, o antigo banqueiro de investimentos Rishi Sunak, demitiu-se.

Nos últimos anos, Sunak tinha colocado a Grã-Bretanha na vanguarda (a seguir aos Estados Unidos) do fornecimento de armas a Zelensky e do “apoio incondicional” a Netanyahu e a Israel. Se reeleito, Sunak prometeu tornar o serviço militar obrigatório para “dar aos nossos jovens um objectivo comum“. Esta política foi derrotada. Tal como o foram as suas medidas contra os refugiados (a deportar para o Ruanda para ali requererem asilo). E toda a sua política anti-operária de privatização e austeridade, contra a qual se levantaram milhares de greves.

Contra Sunak e os conservadores, milhões de eleitores votaram no Partido Trabalhista, o partido tradicional da classe trabalhadora, que obteve uma maioria absoluta, com 410 dos 650 assentos na Câmara dos Comuns. O Partido Trabalhista beneficiou do colapso do Partido Conservador; mas não houve vaga de fundo a seu favor. Muitos trabalhadores não se esqueceram da política de privatização e desregulamentação do Labour, quando estava no poder. Outra característica das eleições foi a elevada abstenção, particularmente entre os trabalhadores, e a eleição de candidatos “independentes”, muitos deles militantes expulsos do Partido Trabalhista pela direcção, como Jeremy Corbyn*. De salientar também a eleição, pela primeira vez, de quatro deputados do partido de extrema-direita Reform UK.

Muitas sondagens mostraram que quem votou trabalhista o fez, em primeiro lugar, “para correr com os Tories“: para se livrar das políticas deles: as privatizações, a inflação, o desmantelamento do sistema de saúde (NHS), que obriga os pacientes a esperar meses por consultas médicas, e o desvio de milhares de milhões de libras para o orçamento de guerra e para mandar armas para a Ucrânia e para Israel.

A mudança começa agora“, prometeu o novo Primeiro-Ministro, Keir Starmer, logo que foi nomeado. No entanto, os trabalhadores britânicos têm razões para duvidar, quando ouvem o novo secretário da Defesa, John Healey, dizer: “Este governo está totalmente empenhado em aumentar a despesa militar para 2,5% do PIB, na NATO, na dissuasão nuclear e no apoio à Ucrânia“.

Estas declarações, tal como as de Starmer, que recentemente se declarou “pró-empresas”, vão desde já de encontro à vontade de milhões de trabalhadores, votassem eles nos trabalhistas, nos independentes ou se abstivessem. Starmer “vai enfrentar um forte desejo de mudança“, nota o Huffington Post. Os trabalhadores britânicos impô-la-ão pela luta de classe, com as suas organizações.

* Starmer foi o arquitecto de purgas no Partido Trabalhista, expulsando às centenas quem denunciasse a política de Netanyahu e instigando verdadeiras caças às bruxas ⎼ por exemplo contra Corbyn, acusado de pretenso “anti-semitismo”.
Traduzido e adaptado de Aurélien Bloyé, nº 448 de La Tribune des travailleurs, 10 de Julho de 2024