Estados Unidos: Dois Partidos ao Serviço da Mesma Classe Dominante

Por trás da desistência de Joe Biden da corrida à Casa Branca está o jogo de interesses de classe. Logo que os deslizes e lapsos de memória do presidente em exercício lhe puseram em risco a reeleição, os seus “generosos doadores” ameaçaram com parar de lhe financiar a campanha.

É uma conversa de dezenas de milhões de dólares! Biden queria ficar, mas foi obrigado a desistir.

É um facto que, na etapa actual, a maior parte do capital financeiro dos Estados Unidos não quer nem Donald J. Trump, nem uma maioria Trump no Congresso. Mas Trump II tem sérias hipóteses de ser eleito.

Trump: Uma política mais próxima do fascismo

Trump tem prometido, se for eleito, seguir uma política que está muito mais próxima do fascismo do que a que conseguiu fazer enquanto Trump I. Os seus recentes discursos de campanha exibem abertamente a vontade de tomar rápidas medidas repressivas em todos os domínios, sem qualquer contemplação por instituições nacionais ou internacionais, ou por direitos e liberdades democráticos. Independentemente da retórica, a única coisa que interessa é promover os interesses de Wall Street e do grande capital americano ⎼ especialmente da indústria dos combustíveis fósseis e do complexo militar-industrial. É isso que significa “America First”.

Após o atentado, Trump resumiu assim a sua política económica:

“Comigo, vai ser bonito: é furar, furar e furar”. Por outras palavras, ponham-se de lado restrições ambientais; vamos tirar do solo todo o petróleo e gás que pudermos, sem querer saber das consequências.

Justiça? Ele já demonstrou que está pronto para espezinhar os direitos fundamentais.

Imigração: Vai impedir a entrada de imigrantes nos EUA com um muro ainda mais alto e intensificar encarceramentos em massa e deportações.

Ucrânia? Os europeus que resolvam o assunto entre eles, não é connosco. O que, sim, preocupa Trump é o imenso mercado chinês, e Trump afirma ser o único capaz de pôr os chefes de Pequim na linha, pela guerra se for preciso.

Direito ao aborto? Não restam dúvidas de que uma administração Trump II irá tentar proibir o aborto a nível nacional e depois atacar os outros direitos reprodutivos.

Quanto aos sindicatos, quanto menos, melhor; e nenhuns, melhor ainda. O que interessa é o lucro, a espada [a força armada] e a palavra de Deus.

Ambos os grandes partidos são partidos da guerra

As políticas de Biden são, no fundamental, tão reaccionárias e anti-operárias como as de Trump. Isso é patente no apoio que tem dado à guerra genocida de Israel em Gaza, na crescente implicação na guerra na Ucrânia e nos preparativos para a guerra contra a China. Isto, além da “guerra interna”, cujo foco principal é tudo o que beneficie a expansão das grandes empresas em detrimento dos cuidados infantis, da educação, da saúde, da água potável e da habitação.

Só que Biden leva a cabo estas políticas à maneira “clássica” do Partido Democrático, com o cuidado de integrar os sindicatos nos seus planos contra os trabalhadores e no financiamento da guerra: a co-optação “clássica”.

Não respondendo às reais necessidades humanas, Biden e o Partido Democrático empurraram sectores inteiros da classe trabalhadora branca, desiludida e empobrecida, ainda a sofrer das consequências da imposição do NAFTA, em 1994, pelo Partido Democrático, para as respostas racistas, demagógicas e populistas de Trump. Apesar do racismo abertamente manifestado por Trump e seus sequazes, Trump conseguiu inclusivamente ganhar algum apoio de trabalhadores de cor, cansados de verem o seu voto dado de barato pelos Democratas, que não cumprem as promessas feitas.

Os dirigentes sindicais e a “esquerda socialista” do Partido Democrático têm grandes responsabilidades nisto. Concedendo apoio inquebrantável ao Partido Democrático, alimentam o mito de que Biden é “amigo do movimento operário”.

Mal Biden desistiu da candidatura à presidência, os dirigentes da AFL-CIO homenagearam-no como o “maior defensor dos trabalhadores americanos que a Casa Branca já conheceu”.

A AFL-CIO e a maior parte dos dirigentes sindicais foram logo a correr anunciar o seu apoio a Kamala Harris; mais o farão em breve, agora que ela tem a nomeação do Partido Democrático garantida.

Mas Kamala Harris não tem nenhuma política a propor que não seja carregar as consequências da crise do sistema capitalista nos ombros dos trabalhadores e dos jovens.

O verdadeiro problema não é o declínio mental e físico do Presidente, mas sim o agravamento da crise do sistema capitalista que, a cada dia que passa, vai arrastando a humanidade para o abismo. Apesar das proclamações de economistas como Paul Krugman e Robert Reich, não há maneira de “salvar o capitalismo” nem maneira de atender às necessidades dos trabalhadores e dos oprimidos sob o capitalismo. Em 1848, Marx e Engels articularam-no de forma simples em “O Manifesto Comunista”; mais tarde desenvolveram as razões. Lenine e Trotsky desenvolveram a análise no século XX para ajustá-la à era do imperialismo.

Uma sociedade capitalista depende da exploração do proletariado, da classe trabalhadora. O que estamos a viver agora ⎼ nenhum leitor discordará ⎼ é o agravamento da exploração da classe trabalhadora e dos povos oprimidos, nos EUA e em todo o mundo, a par de uma ofensiva feroz contra os ganhos sociais que a classe trabalhadora tenha conseguido arrancar pela luta.

Tal como em 1848 e desde então, a classe trabalhadora tem de desenvolver o seu poder político independentemente da classe dominante, de modo a poder tomar o poder para servir as suas necessidades.

A primeira e absoluta condição para uma alternativa dos trabalhadores, aqui nos Estados Unidos, é que o movimento operário organizado rompa com o Partido Democrático, um partido tão capitalista como o Partido Republicano.

Frank Wainwright, Socialist Organizer