(título do New York Times)
Desde que penetrou na Rússia a 6 de Agosto, o exército ucraniano ocupa mais de mil quilómetros quadrados de território russo na região de Kursk, postos sob administração militar.
Os principais representantes da NATO reivindicaram a operação, que armaram e financiaram. Citado pelo New York Times (16 de Agosto), o general Cavoli, alto comandante militar da NATO, considerou que a invasão estava “a correr bastante bem”, enquanto Biden “reconheceu que funcionários americanos tinham estado em contacto com os seus homólogos ucranianos durante a operação”. O New York Times recorda que “Biden autorizou a Ucrânia, no final de Maio, a atacar alvos dentro da Rússia com armas de fabrico americano, abrindo assim o que veio a ser um novo capítulo na guerra pela Ucrânia”. Nunca antes tal se fizera “dentro das fronteiras de um país dotado de armas nucleares”.
Mas esta política de escalada deliberada preocupa o Washington Post (15 de Agosto), pois “comporta riscos (…). Ainda não se sabe como reagiria (Putin) se sentisse a Rússia a perder”. Conclusão do Washington Post: “Os Estados Unidos e a Europa têm de prover a Ucrânia de ainda mais meios para ganhar“.
Na Rússia, a invasão surpresa mostrou a extrema fraqueza do regime de Putin, incapaz de defender o seu território à primeira vez desde a penetração das tropas nazis na União Soviética em Junho de 1941. Conta um antigo diplomata russo que “o círculo de Putin, os altos funcionários e os homens de negócios, ficaram atónitos com o ataque” (Le Canard enchaîné, 14 de Agosto).
Formado na escola burocrática do bluff e da repressão, o regime reage como sempre fez. Por um lado, prepara purgas na cúpula do Ministério da Defesa e do Estado-Maior; por outro, multiplica ameaças, invocando a arma nuclear.
Na prática, quem vai pagar é outra vez a população, tanto na Rússia como na Ucrânia.
Cerca de 150 mil civis russos tiveram de abandonar tudo, na região. O exército ucraniano anuncia ter capturado várias centenas de soldados russos, no essencial jovens entre os 18 e os 20 anos a cumprir o serviço militar.
O que se segue? O regime declarou a lei marcial nas regiões vizinhas. Segundo o ex-deputado Gudkov, o regime, para não desguarnecer a linha da frente ucraniana, não terá alternativa a uma nova vaga de mobilização maciça, que, “sem mantimentos, armas nem formação, não passará de carne para canhão”. Irá a população aceitar continuar a sofrer em silêncio com esta guerra entre oligarcas? Já se ouvem vozes. Nas colunas de refugiados que fogem da cidade ocupada de Sudja, uma mulher atreve-se a declarar em público: “Na televisão, eles mentem, mentem, mentem e mentem! (…) Para salvar a vida, as pessoas só puderam contar consigo próprias, com as autoridades é que não. Eles só sabem mentir” (Om TV, 8 de Agosto).
Mulheres e mães de soldados mobilizados acabam de publicar um vídeo, que circula em canais da rede Telegram como o canal “Moscovo contra a mobilização“: “Ó ministros e altos funcionários que nos chamam a defender a pátria: enviem mas é para lá os vossos filhos e deixem os nossos voltar para casa!“
[adaptado do nº 453 de La Tribune des travailleurs]