Editorial do nº40 d’O Trabalho

E leve com ele o caudilho Marcelo e o verdugo Ventura!

Empossado e tutelado por Marcelo, acolitado por Ventura, viabilizado pela direcção do PS, Montenegro está há quase um ano à cabeça de um governo “de missão”.

A missão de Montenegro está à vista: espatifar, destruir, desmantelar.

Destruir, em primeiro lugar, o serviço nacional de saúde.

Os trabalhadores doentes, as mulheres grávidas, sem seguros de saúde caros, são humilhados em esperas que ultrapassam 24h. O próprio bastonário da Ordem dos Médicos já declarou que o serviço nacional de saúde está à beira da “absoluta ruptura”.

Expulsar, depois, a população trabalhadora e a juventude definitivamente das cidades, reservadas para os ricos e os turistas. A presidente da câmara de Almada (PS) declarou à TSF que a crise habitacional “está a ganhar proporções incontroláveis para qualquer município, sobretudo na Área Metropolitana de Lisboa”. O primeiro ano de Montenegro viu o maior aumento das rendas e preços da habitação desde há muitos anos. E os pequenos obstáculos à especulação ainda subsistentes são arrasados um a um.

Instaurar o terror entre os trabalhadores imigrantes, impedi-los de obter documentos e cuidados de saúde, condená-los a viver no limbo onde podem ser super-explorados pelo patronato, expostos à repressão e ao arbítrio policial.

Abrir, ainda, caminho à conquista da rua pelos bandos fascistas da sociedade Ventura & Machado.

Abrir, por fim, à baioneta a via para algum almirante-bonaparte suceder a Marcelo.

A obra de demolição fá-la Montenegro presidindo a um governo minoritário, em quem nem 20% do eleitorado votou. Para espatifar, destruir e desmantelar, Montenegro usa uma arma secreta: mentir, mentir, mentir. Mentir sem reservas, sem escrúpulos, sem limites: quanto mais grosseira a mentira, melhor. A mentira nunca foi estranha à política; mas os extremos de desfaçatez a que Montenegro a tem elevado, desde a mentira original do “alívio fiscal”, são dignos de espanto (veja-se noutros artigos deste número d’O Trabalho)).

Contudo, Montenegro, “o Venturoso Mentiroso”, só pode fazer o que faz porque conta, além da protecção sem falhas de Marcelo, com a cumplicidade da direcção do PS, que deixou passar o orçamento.

A obra de demolição de Montenegro, dos seus mandatários do grande capital e dos seus suseranos de Bruxelas e Washington está, porém, longe de estar ganha.

As grandiosas manifestações de 25 de Abril de 2024 e, agora, a de 11 de Janeiro de 2025 assinalam o verdadeiro problema de Marcelo, Montenegro e Ventura: as massas trabalhadoras e a juventude, que entram em cena, dando voz e forma à sua vontade de resistência e à sua disposição para lutar; agora incorporando, também, sectores crescentes de trabalhadores imigrantes, que começam a auto-organizar-se face às provocações da polícia de Montenegro e à super-exploração a que são sujeitos.

Este movimento de massas ressurge apesar de abandonado pelas suas direcções políticas tradicionais. PS, PCP e Bloco, comprometidos e colaborantes, em graus variados, com a política de guerra e reacção do grande capital e de Bruxelas/NATO, demitiram-se das suas responsabilidades.

A organização da classe trabalhadora e da juventude, portugueses e imigrantes de mãos dadas, nos locais de trabalho, nos bairros, nas escolas e nas unidades de saúde, mostra que é possível demolir os demolidores: é possível pôr Montenegro na rua.

Nós, d’O Trabalho, entendemos que isso não basta. No lugar das direcções que abandonaram o campo e a causa do trabalho é preciso construirmos uma nova direcção política, um partido dos trabalhadores sem nenhuma amarra ao Estado e ao capital, para poder avançar para um governo dos trabalhadores, responsável perante os trabalhadores e as suas organizações, que imponha as reivindicações e restabeleça a soberania popular. É para essa obra de construção que convidamos os trabalhadores e a juventude e todas as organizações e grupos que nela estejam dispostas a empenhar-se sem reservas nem sectarismos.