Gaza: “Genocídio suspenso, não o projecto colonial”.

Declaração da Iniciativa por um Estado Democrático Único (ODSI) (1)

Declaração da Iniciativa por um Estado Democrático Uno (ODSI)(1)

É com imenso alívio que, em Gaza, como no resto da Palestina e na diáspora, recebemos a trégua na destrutiva limpeza étnica do nosso povo, a tão aguardada retirada das tropas de ocupação da Faixa de Gaza e a libertação dos palestinianos das prisões coloniais.

Durante os últimos quinze meses, sofremos bombardeamentos quase constantes, fogo de artilharia pesada, privação de alimentos, deportações, detenções e a destruição de infra-estruturas essenciais de segurança, saúde, eletricidade, água, saneamento, etc., elementos, todos eles, que caracterizam um genocídio. Os nossos mártires contam-se por dezenas de milhar, podendo ultrapassar cem mil, os feridos por centenas de milhar. (…)

Talvez o brutal genocídio transmitido em directo tenha chegado ao fim, mas a intenção mantém-se. Para o sionismo, a violência é um instrumento ao serviço do projeto colonial (…) O Estado colonial, que se define como “Estado exclusivo do povo judeu(2), tem de ser desmantelado e substituído pela sua antítese: um Estado palestiniano para todos os cidadãos. Este salvará não apenas os palestinianos, mas também os judeus que o projecto sionista utilizou para colonizar a Palestina (…); oferece-lhes a opção de passar do estatuto de colonos ao de cidadãos. (…)

“Reacenda-se e promova-se no nosso discurso e nos nossos combates a visão palestiniana de um Estado democrático uno”.

Na prática, isto significa, em primeiro lugar, abandonar todas as pretensas “soluções” que se procurem amoldar aos fundamentos do sionismo, seja a de dois Estados, a de um Estado binacional, de uma confederação, de demanda de igualdade de direitos, de fim do apartheid no quadro das estruturas coloniais ou outras. Reacenda-se e promova-se no nosso discurso e nos nossos combates a visão palestiniana original de um Estado democrático uno, do rio até ao mar (…).

Em segundo lugar, sem julgar, mas de forma séria e crítica, temos de fazer um balanço dos nossos reveses na luta para pôr fim ao genocídio. Sem deixar de desfrutar destes momentos de paz temporária, abandonemos as velhas receitas e aprendamos com os nossos erros e deficiências. Para além da falta de visão a longo prazo para a nossa libertação, consistem esses erros em exigir à “Autoridade Palestiniana” e aos regimes árabes que tomem uma posição contra o genocídio, em vez de nos organizarmos para os desafiar; em acreditar na retórica triunfalista da República Islâmica do Irão sobre a “unidade dos campos de batalha” e em adoptar o seu discurso identitário (reflexo da politização da identidade pelo sionismo), em vez de o desafiar (…).

O genocídio está suspenso, mas não o projecto colonial. É nossa responsabilidade colectiva mobilizarmo-nos por uma visão política de descolonização radical da Palestina, da região e do mundo.

16 de Janeiro de 2025

(1) Rede de activistas palestinianos que lutam por um Estado laico e democrático no território da Palestina histórica.
(2) Nos termos da lei aprovada em 2018 pelo Parlamento israelita (nota do editor).