Trump, inimigo dos trabalhadores canadianos, mexicanos, chineses… e americanos!

Com início em 4 de Fevereiro, mercadorias importadas para os EUA do Canadá e do México ficam sujeitas a direitos aduaneiros de 25% (Trump adiou entretanto a decisão por um mês); mercadorias importadas da China, a direitos adicionais de +10%. As principais vítimas destas medidas de guerra comercial são os trabalhadores do Canadá, México e China… mas também os dos Estados Unidos.

Os chefes de Estado do Canadá e do México protestaram vagamente, preocupando-se principalmente em encontrar um acordo com Trump. Não admira: 80% das exportações dos dois países vão para os Estados Unidos; já o inverso não é verdadeiro.

Acresce que as burguesias canadiana e mexicana fazem tenções de pôr as suas próprias classes trabalhadoras a pagar a diferença. Segundo o Financial Post (de 21 de Janeiro), “só o Ontario [a província mais industrializada do Canadá] fica em risco de perder 500 mil postos de trabalho”. Situação idêntica no México, onde, nas últimas décadas, os tratados de livre comércio já destruíram milhões de empregos agrícolas e industriais.

Pela sua parte, os trabalhadores chineses sabem que a alcavala de 10% aos direitos aduaneiros acresce às pautas já impostas na primeira presidência de Trump e na de Biden. Sabem, igualmente, que Trump prepara uma guerra contra a China que não é meramente comercial. Assim, a 3 de Fevereiro, em nome da luta contra a “posição actual de influência e controle do Partido Comunista Chinês na zona do canal do Panamá”, o secretário de Estado (ministro dos estrangeiros) Marco Rubio reivindicou a anexação do canal do Panamá pelos Estados Unidos.

E os trabalhadores americanos? Durante toda a campanha, Trump dirigiu-se-lhes, realçando a responsabilidade de Biden no surto inflacionista que arruinara o seu poder de compra. Só que também eles vão pagar muito caro as medidas anunciadas. Trump mostrou-se, aliás, prudente: “Vai doer? Sim, talvez.

Com certeza que não será “talvez”: um estudo da universidade de Yale indica que as taxas aduaneiras custarão, este ano, a cada família americana, em média, entre 965 e 1.160 euros de perda de poder de compra! Com efeito, quem paga as pautas aduaneiras são as sociedades importadoras. Para não verem os seus proveitos corroídos, estas repercutirão a diferença no consumidor, aumentando os preços. Em alguns sectores, como a grande distribuição, “o impacto dos direitos aduaneiros começará, pois, a fazer-se sentir ao fim de poucos dias” (Euronews, 2 de Fevereiro).

Apesar de tal evidência, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Automóvel (UAW), Shawn Fain, não teve vergonha em declarar que “estamos prontos a apoiar o uso das pautas aduaneiras pela administração Trump para pôr termo aos encerramentos de empresas e limitar o poder das empresas que põem os trabalhadores americanos contra os dos outros países.” Fain, ontem ainda adepto caloroso da subordinação dos sindicatos a Biden e ao Partido Democrático, rebola-se hoje miseravelmente à frente da administração Trump, como se esta pudesse defender outros interesses que não os do capital! Apesar desta punhalada pelas costas, os trabalhadores americanos ainda não disseram a última palavra. Na sequência da potente vaga de greves operárias, que já vem do verão de 2023, bastaram poucas horas para os trabalhadores da cadeia de supermercados Costco ameaçarem entrar em greve com o seu sindicato para sacar ao patrão um aumento de salários de 12%.

O Partido Democrático não faz tenções de combater Trump

O Ujima People’s Progress Party, organização operária negra do Estado do Maryland, alerta os trabalhadores negros em luta contra a administração Trump.

No seu discurso de posse, Trump, rodeado de capitalistas multimilionários e de agentes de alto gabarito do imperialismo americano, definiu o quadro em que se propõe dar andamento aos projectos do seu governo de extrema-direita.(…)

O Partido Democrático não faz tenções de combater a administração Trump. Não defenderá dos ataques de Trump nem os negros, nem os imigrantes, nem os trabalhadores. Nós, trabalhadores negros, temos que acelerar o desenvolvimento da nossa própria organização política independente. Temos de romper com o Partido Democrático capitalista, que, posto que de forma menos agressiva do que a administração Trump, partilha a visão do mundo do Partido Republicano: supremacia branca, imperialismo e capitalismo. Assim, os negros, os imigrantes e a classe operária têm de estar preparados. É preciso uma resistência organizada e independente contra os ataques que Trump vai lançar contra os nossos direitos. Não deixemos, porém, que o Partido Democrático desvie a nossa resistência ao fascismo e à opressão do Estado.” (do The Progress Report, Janeiro de 2025).

Estudantes liceais e sindicatos opõem-se às expulsões de trabalhadores imigrantes

Militarização da fronteira mexicana, razias e expulsões de imigrantes, rusgas da polícia federal da imigração — a ICE — a escolas, dispensários, igrejas. A administração Trump declarou guerra aos trabalhadores imigrantes indocumentados, a quem chama “criminosos”. É um ataque contra toda a classe trabalhadora.

É, também, uma política racista, que está a provocar protestos. Em 28 de Janeiro, em San José (Califórnia) — num distrito em que vivem e trabalham 134 mil imigrantes indocumentados — quando se soube de uma rusga da ICE, centenas de estudantes do liceu William C. Overfelt High School vieram para a rua em manifestação, invadindo a cidade. “Parem com as rusgas, parem com o ódio!” e “Protecção dos trabalhadores agrícolas”, lia-se nas faixas. Muitos são filhos de operários agrícolas mexicanos que o colapso da agricultura, devastada pelos tratados de comércio livre, obrigou a emigrar.

No mesmo dia, em São Francisco, a secção local 87 do sindicato Service Employees International Union (SEIU, com 2,2 milhões de filiados) realizou uma conferência de imprensa. A presidente do sindicato, Olga Miranda, denunciou as rusgas policiais em prédios de escritórios para encontrar e prender mulheres da limpeza, que são sobre-exploradas e, muitas delas, indocumentadas. Miranda referiu que o seu sindicato exige que os patrões recusem a entrada à ICE e informou os trabalhadores do que fazer em caso de rusga: “Inteirem-se dos vossos direitos!

Estas iniciativas bastaram para desatar a fúria do “czar das fronteiras”, o antigo polícia Tom Homan, incumbido por Trump de superintender nas rusgas: “Eles chamam-lhe “inteirem-se dos vossos direitos!, eu chamo-lhe: como escapar à ICE!” Está em causa o destino de onze milhões de trabalhadores indocumentados. O poderoso movimento sindical poderia, se os seus dirigentes assim o decidissem, colocá-los sob a sua protecção. Mas, para isso, precisavam de romper com a sua actual atitude de prostração diante de Trump.

E. J. Esperanza, advogado de defesa dos direitos dos trabalhadores imigrantes (Califórnia)