Apelo do Comité por um Partido dos Trabalhadores alemão

Aos trabalhadores, jovens, sindicalistas, eleitores e militantes do SPD e de “Die Linke”

Tal como milhões de trabalhadores e jovens, também nós, membros do Comité por um Partido dos Trabalhadores, ficámos consternados com os resultados das eleições de 23 de Fevereiro.

Como é possível que o partido de extrema-direita AfD tenha obtido mais de 20% dos votos, um partido cuja chefia, pelo menos parte dela, se reivindica abertamente dos nazis, um partido patrocinado pelo bilionário americano Musk, que faz a saudação hitleriana?

Como é possível que consiga alcançar resultados tão elevados nos estados federados do Leste?

Como é possível que o SPD, em quem gerações de trabalhadores depositaram a sua confiança, tenha sofrido o pior resultado da sua história, menos do que nas eleições de Março de 1933, sob o terror nazi, menos do que nas de 1890, quando sofria a perseguição de Bismarck e da sua Lei sobre os Socialistas?

Os resultados eleitorais suscitam uma questão de princípio: faz décadas que os dirigentes das organizações operárias — a começar pelo SPD e pela direcção sindical — viraram costas às aspirações dos trabalhadores.

Surpreendem-se ou indignam-se os “comentadores” com o desempenho da AfD no Leste.

Nós não nos esquecemos, porém, de que, há 35 anos, foram os partidos do poder, tanto no Leste como no Oeste, que cavaram este fosso. Foram eles que, contra a resistência da população trabalhadora e dos jovens, impuseram a privatização-pilhagem pela mão da Treuhand e o desmantelamento das conquistas.

Destruíram-se centenas de empresas, eliminaram-se milhões de postos de trabalho. De um dia para o outro, milhões mergulharam na miséria, no desemprego e no desespero. Enquanto isso, os antigos burocratas da RDA e os capitalistas ocidentais acumularam fortunas e fizeram-se oligarcas, à imagem dos seus equivalentes russos e ucranianos.

A esta política de desmantelamento social no Leste seguiu-se a política de desmantelamento dos direitos dos trabalhadores pelos dirigentes do SPD, recorrendo às reformas Hartz e, a seguir, a formação de sucessivos “blocos centrais” com os partidos capitalistas CDU/CSU, FDP e Verdes, que levaram à prática toda a política de desregulamentação e privatização da Comissão Europeia.

Estes “blocos centrais” e estes governos travaram a guerra “interna”, como se vê hoje nos planos de redução de hospitais, de destruição do ensino, das infra-estrutura etc., nos planos de liquidação de indústrias como a VW e a ThyssenKrupp. Travaram, também, guerra no exterior, injectando centenas de milhares de milhões de euros no orçamento militar, para a NATO e para alimentar a guerra na Ucrânia e o genocídio em Gaza. Espezinharam, assim, o juramento que o povo alemão fez em 1945: “Guerra nunca mais!”

Tudo isto mergulhou sectores inteiros da população trabalhadora no desespero e na desmoralização — terreno fértil para todos os demagogos, que fazem dos trabalhadores migrantes, nossos camaradas, bodes expiatórios para nos dividir. Aderem a esta divisão os demagogos racistas da AfD, os da CDU/CSU, que lhes seguem os passos, mas também aqueles que se dizem de “esquerda”, tanto na direcção do SPD como nas políticas da BSW, que ousou dar a mão à extrema-direita no votação do Bundestag de há poucas semanas.

A situação inaugurada a 23 de Fevereiro caracteriza-se por grande incerteza e confusão.

Nós afirmamos, no entanto, que as maiores lutas da classe trabalhadora — na Alemanha e no mundo — ainda estão à nossa frente.

Para poder encabeçar estas lutas é, porém, necessário rejeitar todas as tentativas para voltar a acorrentar as organizações que se reivindicam dos trabalhadores às políticas dos partidos capitalistas. Merz, o homem da BlackRock, que recebe as suas ordens da gente do grande capital, exige que a direcção do SPD se prepare outra vez para formar um “bloco central”.

Os militantes do SPD, os sindicalistas têm de se fazer ouvir: “Não à coligação com Merz!”

Os dirigentes do SPD, que já estão a discutir a aceitação do ditame de Merz, arcarão com a responsabilidade pelo colapso do seu próprio partido.

Uma coisa é certa: os trabalhadores têm de ter o seu próprio partido, um verdadeiro partido dos trabalhadores, exclusivamente norteado pela defesa dos seus interesses como trabalhadores, reformados e jovens e que lute pela unidade de todos os trabalhadores sem distinção, sejam eles “alemães” ou “imigrantes”.

Dirigimo-nos, assim, a todos os trabalhadores, jovens, sindicalistas, eleitores e militantes do SPD e de “Die Linke”: unamo-nos pela perspectiva de um verdadeiro partido dos trabalhadores.

Para nós, não é uma condição prévia: forjemos de imediato uma frente única dos trabalhadores, com as suas organizações, classe contra classe, portanto trabalho contra capital, contra um governo Merz, governo do desemprego, da guerra e da miséria!

Entra em contacto connosco via info@komitee-fuer-eine-arbeiterpartei.org.

Convite para o debate via Webex no dia 5 de Março, às 19h00 (ligação via info@komitee-fuer-eine-arbeiterpartei.org), e no dia 17 de Março em Sömmerda.