Para Onde Vai Portugal? Perguntem aos Violas!

Na sua alocução ao país do passado Sábado, 1 de Março, o primeiro ministro de Portugal, o ilustre jurista e bom homem — asseverou, em todo o caso, o próprio — sr. Luís Montenegro, quis deixar uma coisa bem clara e transparente ao país: quem quiser saber o que “Portugal” acha, é avisado que o pergunte ao chefe e cliente-mor da empresa do bom homem sr. Montenegro: a boa e rica família Violas.

Mesmo estando nós na era Trump, teve o seu quê de arrepiante ver o ilustre dr. Luís a declarar com desplante e desenvoltura “ao país” que “a partir de agora, a minha empresa é só dos meus filhos” — e, portanto, eram dele ela e os seus interesses e proventos até agora, 1 de Março de 2025, a um ano da sua “chefia de governo”.

Disse ainda o bom homem que, tornado — “porque o quis!” — primeiro ministro, só (se) manteve (n)a (sua) empresa, porque, assim explicou, bom homem, bom pai de família, coitado, não quis estragar o futuro dos seus bons filhos de família, coitados.

Uma coisa ficou certa e clara: o bom homem — coitado — vai continuar a não querer estragar a vida aos filhos — coitados.

Como se presume que os filhos — coitados — só herdam, na sua nova empresa, como clientes, do bom homem que lhe e lhes deu vida, empresas que bebiam da “ciência” do grande jurista protector de dados — o bom homem Luís Montenegro, coitado — presume-se também que a única maneira de não “estragar o futuro” aos jovens e promissores estudantes de variadas matérias não jurídicas filhos do ilustre jurista protector de dados e bom homem sr. Montenegro, coitado, é aqueles clientes saberem que podem continuar a contar com a “ciência” do grande jurista protector de dados — e bom homem! — sr. Montenegro.

Estamos, naturalmente, sempre admitindo que as relações cliente/servidor entre os srs. Violas — e outros bons senhores — e o grande jurista protector de dados sr. Montenegro não eram mera fachada de outra coisa — impensável para quem tivesse fixado o olhar no fácies profundamente sério e honesto do dito grande jurista protector de dados sr. Montenegro.

Não se detecte qualquer ironia: o grande jurista protector de dados sr. Montenegro reiterou, para que nenhuma dúvida restasse, reiterou, sim, da própria boca, situada mais ou menos a meio do honesto fácies do grande jurista protector de dados sr. Montenegro, que, não senhor, ele não era sério e honesto. Nada disso, sério e honesto é qualquer um; ele é, isso sim, mesmo sério e honesto — quem não sabe a diferença?!

Mais bizarro que tudo isto?

Mais bizarro do que o bom homem sr. Montenegro, excelente pai de família, confessar-se vinculado e subordinado — na especial qualidade de “grande amigo”, atenção — de uma (ou várias) famílias “donas disto tudo”, foi ouvir o chefe do Partido Socialista, o “esquerdista” Pedro Nuno declarar que não “viabilizaria” uma moção de censura — nomeadamente a prometida pelo PCP — e, forçosamente, não apresentaria ele próprio uma moção de censura ao governo do confesso súbdito de donos de casinos e hotéis, humilde responsável dos dados e interesses destes, e o deixaria, por conseguinte, continuar a governar o país no interesse dos seus bons clientes e amigos e dos seus bons filhos, coitados.

Pela segunda vez em poucas semanas, a direcção do PS salva o governo do ilustre jurista e bom homem dr. Luís.

Salvou-o quando, sendo o governo do bom homem apenas o governo do bom homem, pôde usar a desculpa de que a moção de censura era apresentada, como foi, por um cafajeste neofascista com inconfessáveis intenções.

Mas salva-o ainda quando se verifica publicamente que o governo do bom homem é o governo do empregado da família Violas (e, eventualmente, doutras capazes de pagar os seus modestos serviços).

Os muito mais de nove milhões que não são avençados-centro dos donos disto tudo e, por exemplo, vêem os filhos obrigados a ficar em casa dos pais até aos 30 e mais anos porque os donos de tudo isto transformaram o “mercado” da habitação num casino — de dados bem protegidos — e coutada, em geral, de todo o género de aves de rapina nacionais e de fora, esses mais de nove milhões, os trabalhadores deste país, tomarão nota e saberão reagir à sua maneira.

Por muito matreiro que seja o bom dr. Luís e muito atamancado o dr. Pedro Nuno.