
O dia 28 de Fevereiro marca o segundo aniversário do acidente de comboio de Tempi, no qual cinquenta e sete passageiros, muitos dos quais estudantes, encontraram a morte. Durante dois anos, o governo recusou-se a assumir as suas responsabilidades. Pior: os vestígios que poderiam ter esclarecido as causas, no local do acidente, foram destruídos, tal como documentos. A dor das vítimas transformou-se em cólera.
Já em 26 de Janeiro mais de 100 mil manifestantes haviam respondido ao apelo dos familiares das vítimas, em Atenas e Salónica. Apelaram, na altura, aos sindicatos para que fizessem greve no dia do segundo aniversário, exigindo justiça para as vítimas e a responsabilização dos culpados. A central sindical da função pública, ADEDY, decidiu convocar uma greve, no que foi seguida pela central do sector privado, GSEE, e por inúmeras secções e uniões sindicais locais. No dia 28, a greve geral paralisou o país.
Mais de um milhão de pessoas manifestaram-se em todo o país, numa das maiores manifestações dos últimos cinquenta anos. Em Atenas, Salónica, em todas as cidades, nas ilhas, em todo o lado, as concentrações foram maciças. Em Náuplia, por exemplo, houve 10 mil manifestantes — para 15 mil habitantes. Entre os oradores: uma idosa, doente com cancro, denunciou as condições insustentáveis que reinam no hospital. Porta-vozes do sindicato dos professores e pais denunciaram a falta de professores nas escolas. “Isto tem de mudar!“: é grande a revolta contra um Estado incapaz de garantir transportes públicos seguros, escolas de qualidade e cuidados de saúde que funcionem aos trabalhadores, aos jovens, aos reformados e aos pais .
O primeiro-ministro Mitsotakis (direita) acaba de anunciar com orgulho ter conseguido “gerar” um excedente orçamental de dois mil milhões de euros. Dois mil milhões de euros “economizados” pelas suas medidas de austeridade e privatização, que redundarão em novas tragédias como a de Tempi. As massas que se mobilizaram a 28 de Fevereiro negaram toda a legitimidade ao governo de Mitsotakis. Mas a sua cólera dirigia-se igualmente contra os governos anteriores, quer o do Pasok “socialista”, quer o do Syriza, a “esquerda radical”, que aplicaram, todos eles, as políticas de austeridade da União Europeia, do Banco Central Europeu e do FMI (a “troika”)*.
Porque o problema de fundo é: que governo irá garantir os direitos elementares exigidos a 28 de Fevereiro? Eram muitos os que se manifestavam pela primeira vez. Estas manifestações, que ficarão gravadas nas memórias, são um primeiro passo para impor outro governo: elas dizem-nos que “os de baixo já não querem viver como dantes”.
Traduzido e adaptado do nº 480 de La Tribune des travailleurs
* Todos estes governos contribuíram para a privatização dos caminhos-de-ferro gregos, tornando-os os mais perigosos da Europa em matéria de acidentes ferroviários.