
A detenção e posterior prisão de Ikrem Imamoglu, presidente da Câmara de Istambul e provável candidato do Partido Republicano do Povo (CHP) às eleições presidenciais de 2028, foi objecto de enormes manifestações que contaram com a participação de cerca de um milhão de pessoas, na sua grande maioria jovens.
Os anúncios da detenção do Presidente da Câmara de Istambul, Ikrem Imamoglu, em 19 de Março, e da sua prisão, em 23 de Março, levaram os estudantes de muitas universidades a saírem à rua, seguidos pelos alunos do ensino secundário e por vastas camadas da população. Imamoglu é acusado de “corrupção” e “terrorismo”; as suas contas bancárias foram bloqueadas e as suas empresas confiscadas.
A proibição de manifestações decretada para Istambul, por quatro dias, não pôde ser aplicada em lado nenhum. Apesar do seu enorme aparelho de segurança, Erdogan começou-se a assustar. A sua segunda declaração foi muito menos agressiva do que a primeira. A 22 de Março, havia um milhão de pessoas em Istambul, 80% das quais jovens que eram apenas crianças na altura da revolta da Praça Taksim, em Maio e Junho de 2013. Os protestos espalharam-se por todo o país, com confrontos com a polícia e centenas de detenções.
A detenção de Imamoglu vai além da sua pessoa. Para milhões de trabalhadores e jovens, o que está em causa é a defesa dos últimos direitos democráticos e sociais que ainda não foram suprimidos pelo regime de Erdogan. Desde há meses que o seu regime bonapartista, apoiado pelos fascistas do Partido da Acção Nacionalista (MHP), tem vindo a intensificar a pressão contra todas as forças da oposição.
O governo começou por nomear “intendentes” a supervisionar os municípios conquistados pelo partido que defende os direitos da população curda. Em seguida, alargou essa função aos numerosos municípios conquistados pelo CHP nas últimas eleições. Os jornalistas que se opõem ao regime foram detidos. A Ordem dos Advogados de Istambul, uma das maiores da Europa, com 60.000 advogados, foi dissolvida. A ofensiva repressiva está obviamente a ser desencadeada também contra o movimento operário: foram detidos dirigentes sindicais que rejeitaram o decreto de Erdogan que proíbe as greves.
A crise económica, a hiper-inflação e os impostos exorbitantes, impostos sobre os trabalhadores para financiar a guerra “no exterior” (intervenções militares na Síria, Líbia, Azerbaijão, Sudão e Somália), alimentaram a revolta.
O Partido Republicano do Povo (o grande partido burguês laico que se opõe a Erdogan e que se inspira em Mustafa Kemal) está a beneficiar parcialmente desta revolta popular, operária e juvenil contra o regime. Quinze milhões de cidadãos participaram nas “primárias” organizadas pelo partido para escolher Imamoglu como futuro candidato às próximas eleições presidenciais. Mas Imamoglu é um político dos círculos burgueses conservadores em quem os trabalhadores não podem confiar.
Para os militantes do grupo Sosyalizm, a necessidade urgente é lutar pela unidade das organizações dos trabalhadores contra a marcha para o fascismo. A pergunta deles: “Não deviam todas as organizações que se dizem a favor dos trabalhadores e dos direitos democráticos dos povos unir-se no apelo a uma greve geral para barrar o caminho ao totalitarismo?”