
O meu nome é Mahmoud Khalil. Sou um preso político. Escrevo-vos de um centro de detenção no estado da Louisiana(…)
No dia 8 de Março, agentes do DHS (departamento de segurança interna dos EUA — NdR) mandaram-me parar quando regressava a casa, depois de jantar com a minha mulher.
Recusaram-se a mostrar-me um mandado. Abordaram-nos com brutalidade. As imagens dessa noite são públicas. Sem sequer ter tempo de perceber o que estava a acontecer, fui algemado e forçado a entrar num carro não identificado. (…) A minha detenção é consequência directa do meu exercício da liberdade de expressão: fiz campanha por uma Palestina livre e denunciei o genocídio em curso em Gaza, que recomeçou, em pior, na segunda-feira à noite. (…)
Nasci num campo de refugiados palestinianos na Síria, no meio duma família afastada da sua terra desde a Nakba de 1948. Cresci perto da minha pátria, mas estrangeiro dela. Ser palestiniano é, contudo, uma experiência que transcende fronteiras. Na minha situação, revejo paralelos com a detenção administrativa de que Israel se serve para privar os palestinianos dos seus direitos — encarceramento sem acusação nem julgamento. (…)
A minha detenção injusta é uma ilustração perfeita do racismo antipalestiniano que se intensificou com as administrações Biden e Trump. Há dezasseis meses que os Estados Unidos não param de fornecer armas a Israel para massacrar os palestinianos e bloqueiam qualquer intervenção internacional. (…)
Enquanto aguardo decisões judiciais que determinarão o futuro da minha mulher e do nosso filho nascituro, aqueles que facilitaram a minha perseguição continuam confortavelmente instalados na Universidade de Columbia. (…) A universidade instituiu um novo gabinete disciplinar autoritário, feito para evadir o procedimento regular e silenciar estudantes que critiquem Israel. Cedeu à pressão do governo federal, entregando fichas de estudantes ao Congresso e cedendo às mais recentes ameaças da administração Trump.
A minha detenção, assim como a expulsão ou suspensão de pelo menos vinte e dois estudantes da Universidade de Columbia — alguns, privados do seu diploma, a poucas semanas da formação —, (…) são disso prova estrondosa. (…) Os estudantes têm estado sempre na vanguarda da mudança: lutaram contra a guerra do Vietname, estiveram no coração do movimento dos direitos civis e travaram a luta contra o apartheid na África do Sul. Hoje, são outra vez os estudantes quem nos guia em direcção à verdade e à justiça, se bem que a opinião pública ainda não esteja plenamente ciente disso.
A administração Trump põe a mira em mim no âmbito de uma estratégia mais ampla que visa esmagar a dissidência. Os titulares de vistos, os detentores de cartas verdes (green cards) e os próprios cidadãos americanos vão ser cada vez mais atacados por causa das suas convicções políticas. Nas próximas semanas, estudantes, activistas e eleitos devem unir-se em defesa do direito de manifestação pela Palestina. Não estão apenas em causa as nossas vozes, estão-no as liberdades civis fundamentais de todos. (…)