Da Idade de Ouro à 2ª Feira Negra

Na sua posse, Trump prometeu uma “idade de ouro” à classe capitalista dos Estados Unidos.
Para impor “America First” (Primeiro, a América), Trump anunciou a aplicação de pautas aduaneiras elevadas sobre praticamente todos os bens importados. Medida a afectar todos os países “próximos e distantes, aliados e inimigos”. Com particular brutalidade contra a China, cuja economia, assente na propriedade estatal, continua, para Washington, a ser o alvo a abater.
Porém, “antes da ‘idade de ouro’ (…) a conta vai sair cara”, ironizava o diário belga Le Soir (7 de Abril). Mal Trump anunciou as medidas, as bolsas caíram, o pânico tomou conta da classe capitalista.
A ameaça de uma recessão nos Estados Unidos anunciada por bancos de investimento como o Goldman Sachs provocou uma “segunda-feira negra” nas bolsas, que, no sistema capitalista, são “um termómetro que reproduz as ansiedades dos investidores, das empresas e dos bancos (…). Se as cotações se despenham, é sinal de que a economia mundial está prestes a passar um transe muito difícil“, segundo um economista (20 Minutes, 7 de Abril).
Mau transe para os lucros capitalistas… mas, como sempre, quem vai pagar são os trabalhadores, acrescenta o economista: “Mais desemprego, menos aumentos salariais, menos investimentos, orçamentos mais apertados”. Já para não falar da marcha para a guerra mundial, consequência de recorrer à economia das armas como mola artificial do sistema capitalista moribundo.
A Trump, de quem a classe capitalista exige resultados rápidos, resta a auto-sugestão: “Aguentem-se”, atirou, a 5 de Abril, “vamos ganhar”.
“Na cúpula”, entre a classe capitalista americana, fala-se de 2008, 1971, 1929… começa-se a duvidar seriamente da capacidade de Trump para garantir o nível de lucros que se esperava.
“Na base”, a América que sofre e luta começa a levantar a cabeça. Até alguns sectores que, enganados pela retórica demagógica e pela rejeição dos democratas, votaram em Trump em Novembro de 2024.
No âmago do reduto operário de Detroit (Michigan), à saída de uma reunião do sindicato United Auto Workers (UAW), um trabalhador entrevistado pela France Info (7 de Abril) queixava-se: “acabam de pôr em de-semprego técnico (o grupo Stellantis – ndr) 900 trabalhadores, mas pode dar em despedimentos, e é a mesma coisa nos outros construtores, General Motors e Ford”. Conclui: “É uma desordem, não podíamos ter escolhido pior para governar o país”.