
Enquanto mantém conversações com Putin, a administração Trump exige que Zelensky assine um acordo para instituir um Fundo de Investimento Estados Unidos-Ucrânia.
Uma jornalista ucraniana escreve que tal acordo é “tóxico para a Ucrânia”, pois obrigá-la-ia a “reembolsar cada cêntimo de ajuda militar e humanitária dos EUA recebido desde a invasão russa em 2022. Washington reclama também o controlo de metade das receitas geradas pela Ucrânia com os seus recursos minerais, incluindo o petróleo e o gás.” Um acordo “por tempo indeterminado: a Ucrânia não poderá nem alterá-lo nem denunciá-lo sem o consentimento dos Estados Unidos. E o que recebe a Ucrânia em troca? Absolutamente nada!” (The Spectator, 1 de Abril).
O fundo, gerido por cinco membros, três deles nomeados pelos Estados Unidos, “conferirá a Washington um autêntico direito de veto sobre as decisões-chave em matéria de novas estradas, caminhos-de-ferro, portos, minas, petróleo, gás e minerais essenciais”, escrevem as Euronews de 9 de Abril, salientando que o acordo suscita “acusações de exploração e de neocolonialismo”.
O acordo permitirá aos EUA recuperarem a ajuda militar que deram à Ucrânia, num total, segundo o número avançado por Trump, de 350 mil milhões de dólares… o que é três vezes mais do que o valor recenseado pelo seriíssimo Instituto de Kiel, na Alemanha. Cada dólar investido por Washington na guerra desde a invasão russa, renderia, assim, o triplo!
Zelensky declarou que, “para ser uma verdadeira parceria (…), teria de ser 50/50”, não sem concordar desde já em ”contribuir com as suas terras e recursos” (Kiyv Independent, 11 de Abril). Definiu assim as suas “linhas vermelhas”: o acordo tem de estar em conformidade com a Constituição, o processo de integração na UE e o direito internacional. Só que, para Trump, o único “direito internacional” que vale é a lei do mais forte.
Continua, entretanto, a mobilização forçada dos trabalhadores e dos jovens ucranianos para a matança. As rusgas dos centros de recrutamento militar são tão violentas, que até o Parlamento se viu obrigado a emitir um tímido protesto, no final de Março, declarando “inaceitável o uso de força física”.
Os trabalhadores e jovens da Ucrânia, tal como os da Rússia, fazem bem em se recusarem a lutar pelos oligarcas de Kiev ou de Moscovo. Depois da invasão de Putin, a chantagem de Trump confirma uma vez mais que esta guerra é, do princípio ao fim, uma guerra de pilhagem imperialista.