Gaza – Os campos da vergonha

A pretexto de ajuda humanitária, a Gaza Humanitarian Foundation – fundação criada pelos Estados Unidos e por Israel – participa na transferência forçada dos palestinianos para fora da Faixa de Gaza. A crise na cúpula do Estado de Israel agrava-se. Enquanto isso, o exército aproveita a distribuição de alimentos para acelerar o genocídio. Para o impedir, um clamor eleva-se pelo mundo: ruptura de todas as relações com o Estado genocida!

Deixemo-nos de histórias. A tal ‘zona humanitária’ onde o exército tenciona enfiar os dois milhões de habitantes de Gaza resume-se em três palavras: campo de concentração“, advertia, no dia 1 de Abril último, o jornalista israelita Meron Rapoport, no meio de comunicação judaico-árabe +972.

Por iniciativa da administração americana e de Israel, a organização pretensamente humanitária Gaza Humanitarian Foundation (GHF) tenta eliminar a agência da ONU para os refugiados palestinianos, a UNRWA, que, pelo menos no papel, reconhecia aos palestinianos expulsos em 1948 o estatuto de refugiados. Há um segundo objectivo: acompanhar a transferência dos palestinianos para fora da Faixa de Gaza, usando tanto a fome como a “ajuda humanitária” como armas de guerra.

Entre os habitantes chegados, famintos e emaciados, ao centro da GHF em Rafah, a 27 de Maio, o correspondente da americana Mondoweiss cita o testemunho de Muhammad Abu Hadi, a viver numa tenda, em Al-Mawasi. Informado de que se iriam distribuir pacotes em Rafah, ele percorreu sete quilómetros a pé no meio das ruínas: “Anda-se muito, até chegar à vedação. Havia duas filas de espera, uma para os homens e outra para as mulheres. Havia cinco empregados americanos, os outros eram árabes (…). Deram-nos uma caixa de comida e fomo-nos embora pelo meio do arame farpado (…) Parecia uma grande prisão. Mas as pessoas derrubaram a vedação e invadiram o local.”

A distribuição da ajuda a conta-gotas provocou tumultos e pilhagens… oportunidade para o exército israelita “disparar a eito”: 31 mortos e 176 feridos, entre os quais crianças, à porta de um centro da GHF, no dia 1 de Junho. “Foi o caos. O exército disparou de drones e tanques“, contou um refugiado à agência France-Presse (1 de Junho). Para o responsável da UNRWA, as distribuições da GHF tornaram-se uma “armadilha mortal”.

A continuação do genocídio está a acelerar a crise do Estado de Israel. A demonstrá-lo o que escreve o Yediot Aharonot, o principal diário israelita – muito “de direita”: “Se tivesse lucidez, o cidadão israelita normal perceberia que existe uma ligação estreita e existencial entre a vida das crianças de Gaza e a vida das crianças de Israel. Mas Netanyahu não quer saber disso para nada e tem tanto desprezo pela vida dos palestinianos como pela nossa“. O mesmo diário publicou um apelo que proclama que: “é um dever não obedecer a ordens conscientemente criminosas ou servir num exército de apartheid, ocupação e genocídio”. Algumas famílias de israelitas prisioneiros em Gaza, sentindo-se abandonadas, chegam a declarar que “Israel acabou. Deixei de acreditar que este país nos queira bem” (La Croix, 25 de Maio).

Mas de nada serve… Apesar do desentendimento entre Trump e Netanyahu (que explica a súbita reviravolta verbal dos governos ocidentais e dos seus meios de comunicação social a respeito de Gaza), o Ministério da Defesa de Israel saudou triunfalmente, no dia 27 de Maio, a 800ª entrega de armas “made in USA”. Armas que, diz o Ministério, permitirão a Israel “atingir os objectivos da guerra”.

Para acabar com o genocídio, é preciso cortar todas as relações com o Estado genocida!

Traduzido e adaptado de Dominique Ferré, La Tribune des travailleurs nº 493