Requisição da banca e grande indústria, proibição dos despedimentos!

Editorial do nº 17 d’O Trabalho

Pandemia: Ou se salva o capital e se destroem os trabalhadores, ou se salvam os trabalhadores expropriando o capital

Em três dias, meio milhão de trabalhadores em lay-off, com dois terços do salário, a juntar a 400 mil no desemprego. Trezentos mil trabalhadores a “recibo verde”, a grande maioria precários sem vínculo, agora sem vintém. Abusos patronais, despedimentos e cessações de contratos a prazo despachados antes de meter o lay-off, “férias” impostas. Pandemia? Não, lei da selva capitalista.

Nos EUA, em dois dias, 10 milhões de trabalhadores (ao todo, já, 16 milhões) sumariamente postos na rua. Em Itália, inúmeros à espera de subsídios que não sabem se chegam, sem tostão no bolso para comer, alimentados por vizinhos e beneméritos. Em Portugal, austeridade. Desde já aos níveis, pelo menos, da troika.

Isto, por um lado.

Por outro lado: o presidente da República toma o poder e decreta o estado de emergência. O governo executa, obediente, com a bênção de todos os partidos parlamentares.

Marcelo mostra o que são as “geringonças” e quem manda nelas.

Estado de emergência por causa da pandemia? Não. O recolhimento foi realizado pela população antes de ser decretado. O alvo do estado de emergência ficou escrito no decreto: criminalizar toda a resistência, proibir a greve.

A “União” Europeia recorda aos governantes de “esquerda”, aos Costas e Sánchez, para que é que eles servem: servem para aplicar, com ou sem “repugnância”, as ordens de Bruxelas (quando a direita já não tem força para o fazer ela). E, quando as coisas apertam, para beber e fazer beber o cálice da austeridade até às borras — metendo o ronaldismo financeiro na gaveta.

De todos os quadrantes, lúgubres anúncios: a “economia” entra em recessão nunca vista, que obrigará a sacrifícios sem fim (dos trabalhadores).

Prometem: a fome; e dizem: preparem-se.

Marcelo diz: é a guerra e discute-se a propriedade da “metáfora”. Porém, não é metáfora. É mesmo guerra. A guerra capitalista, em que os soldados rasos, os trabalhadores, são a carne para canhão. Ou continuam a laborar sem equipamentos de protecção, em sectores “vitais” ou não. Ou vão para casa com o salário truncado, pago pela segurança social, portanto pelo seu próprio salário futuro, ficando a olhar para o vazio.

A pandemia revela a falência do capitalismo, que só lhe pode fazer face atirando friamente milhões de trabalhadores para o caminho da miséria. “Fiquem em casa”, dizem. Ora, em muitos países, só pela greve conseguiram os trabalhadores não ficar a trabalhar sem protecção.

Em Portugal, Marcelo e Costa, com o voto de PS, PSD, CDS, Chega e BE, proibiram, porém, a greve e a resistência.

E logo tocou a requisitar os estivadores. E o patronato a decretar o lockout.

Enquanto isto, o governo dá milhares de milhões ao capital, que a banca, belo negócio de juros em perspectiva, há-de canalizar. Chamam-lhe: “salvar a economia”.

Guerra? Sim, guerra do capital contra o trabalho.

O capital mobiliza o Estado para se salvar. A CIP exige crédito barato ou gratuito, subsídios a “fundo perdido” e injecções de capital (“sem direito de voto”).

O capitalismo a tentar salvar-se, como sempre, socializa os prejuízos. Até voltar o lucro. Nessa altura, reprivatiza-se. Até lá: a austeridade brutal para quem trabalha.

A alternativa escancara-se, pois, simples.

Ajudar o capital a salvar-se — esmagando o trabalho.

Ou confiscar a grande indústria e a banca, rompercom a dívida e a União Europeia, garantir a salvação do trabalho, o abastecimento da população, o pagamento dos salários e o serviço nacional de saúde.

Raramente a escolha terá sido tão clara.