Nos dois lados do Atlântico: votos de união sagrada

Na foto Cori Bush e Ocazio-Cortez

O Democratic Socialists of America (DSA) é uma organização que se diz “socialista”, mas é membro de um partido capitalista, o Partido Democrata de Biden.

Em 20 de Abril, quando a Câmara dos Representantes dos EUA votou os 61 mil milhões de dólares de créditos de guerra para a Ucrânia, as duas deputadas democratas membros do DSA, Alexandria Ocasio-Cortez e Cori Bush, votaram, sem hesitar, a favor.  Em 17 de Abril, Ocasio-Cortez anunciou: “Há 738 dias que a Ucrânia luta contra Putin – uma batalha que a democracia global não pode perder. (…) Está na altura de o Congresso votar a ajuda à Ucrânia“. Cori Bush, por sua vez, declarou a 20 de Abril: “Recuso-me a permitir que o povo ucraniano sofra, entregue ao regime assassino de Putin (…). Votei para apoiar o povo ucraniano na sua luta contra a invasão ilegal da Rússia.” Acima de tudo, ela votou para apoiar os lucros da Lockheed Martin, da Raytheon, da Boeing e de outros comerciantes de armas listados em Wall Street!

Num jogo parlamentar, a administração Biden tinha conseguido que as votações sobre os créditos de guerra para a Ucrânia, Israel e Taiwan fossem separadas. Trinta e seis democratas (incluindo Ocasio-Cortez e Bush) votaram contra os 26 mil milhões de ajuda a Netanyahu, sob pressão do enorme movimento nos Estados Unidos que exige o fim de toda a ajuda americana a Israel. Mas isso não afectou o resultado da votação dos 61 mil milhões para a Ucrânia, nem dos 8 mil milhões para a preparação da guerra contra a China, que Ocasio-Cortez e Bush votaram favoravelmente. Por seu lado, alguns republicanos pró-Trump votaram contra os 61 mil milhões para a Ucrânia, mais uma vez sem afetar o resultado final da votação.

Os votos de Ocasio-Cortez e Bush fazem lembrar, do outro lado do Atlântico, os de quase todos os eurodeputados de “esquerda”, que também eram a favor dos créditos de guerra.  Manon Aubry (LFI) gabou-se na France Inter, a 19 de Março, de ter votado “trinta e duas vezes” a favor de tais resoluções no Parlamento Europeu.  A mais recente, de 27 de fevereiro, concedeu a Zelensky 50 mil milhões de euros de ajuda militar. O mesmo se aplica à resolução adoptada pela Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa em 16 de Abril. Foi adoptada por unanimidade, incluindo os quatro membros do grupo da Esquerda Unitária Europeia presentes, entre os quais a sua vice-presidente, Anne Stambach-Terrenoir, deputada do LFI!*

* Os eurodeputados do Bloco de Esquerda, que têm votado todas as resoluções do Parlamento Europeu
de apoio à militarização da UE, ao reforço da NATO e à guerra sem quartel contra a Rússia, não compareceram a esta votação.
Traduzido e adaptado de Jean Alain, La Tribune des travailleurs, nº 437