É uma só e a mesma guerra contra que temos de combater

Os olhos do mundo estão postos em Rafah.
A anunciada intervenção do exército israelita vai provocar milhares de vítimas, a somar às cerca de 40.000 mortes já causadas.
No mesmo instante, intensifica-se a guerra no centro da Europa. O presidente francês Macron decide engatar uma nova mudança ⎼ propondo, na primeira página da revista The Economist, uma “defesa europeia” que mutualize as armas nucleares.
O mundo encaminha-se para a guerra…
Muitos daqueles, porém, que, à “esquerda”, condenam o apoio dado a Netanyahu pelos governos capitalistas recusam-se a condenar o apoio dado por esses mesmos governos a Zelensky. Os mesmos que, à “esquerda”, pedem o fim do fornecimento de armas a Israel, recusam-se a condenar o fornecimento de armas à Ucrânia.
Pior: no Congresso dos EUA e no Parlamento Europeu, tais “deputados de esquerda” votaram e votam a favor desses fornecimento de armas.
Será possível separar as duas questões? Ao pôr à votação, no mesmo dia e num mesmo movimento, os 61 mil milhões em “ajuda à Ucrânia” e os 26 mil milhões de “ajuda a Israel”, Biden deixou claro que a guerra que está a travar contra os trabalhadores e os povos é uma e a mesma.
Macron sabe disso, pois é membro da mesma aliança – a NATO ⎼ encabeçada pelo imperialismo norte-americano.
Ouve-se às vezes a objecção: “Ah, mas a Ucrânia não é a mesma coisa, porque está ameaçada por Putin”.
Que Putin é um inimigo da classe trabalhadora, da democracia e das liberdades, não resta a mais pequena dúvida. Mas alguém acredita que é por amor à liberdade e à soberania dos povos que os Macrons, Scholzs, Sanchez e Costas/Montenegros financiam a guerra na Ucrânia? Se a motivação deles é ajudar um povo sujeito a uma invasão estrangeira, porque não armam então o povo palestiniano, que há setenta e cinco anos é vítima da colonização e invasão israelita?
Não, ninguém acredita que Biden e os chefes europeus sejam movidos pelo amor à liberdade.
O que os move a envolverem-se no Médio Oriente atrás de Netanyahu é a preservação da “ordem” imperialista.
Na Ucrânia, metem-se para defender os interesses dos oligarcas de Washington e Paris contra os interesses dos oligarcas de Moscovo.
Biden, os chefes dos países da UE e Putin estão de acordo numa coisa: que as “grandes potências” têm o direito de decidir pelos povos. Há apenas um ponto em que discordam: em saber se tais decisões devem ser tomadas em Washington ou em Moscovo.
A política de cada governo imperialista é um todo. No que aos trabalhadores e jovens de Portugal, da França, Alemanha ou Espanha diz respeito, o que eles vêem é os seus governos a travarem uma guerra no exterior para defender os interesses capitalistas exactamente da mesma maneira que, em cada um desses países, fazem guerra aos interesses dos trabalhadores e da juventude.
É por isso que a palavra de ordem “Nem um tostão, nem uma arma, nem um soldado para a guerra!” se opõe tanto à política estrangeira de Macron e dos seus correligionários europeus ⎼ no Médio Oriente, na Europa Central ou em África… ⎼ como às suas políticas internas contra os trabalhadores e a juventude.

[adaptado do editorial de La Tribune des travailleurs nº 438, 30 de Abril]