Artigo de François Forgue saído no nº 54 de La Tribune des Travailleurs, jornal do Partido Operário Independente Democrático francês
No dia 2 de Setembro de 2016, em toda a Índia, cerca de 180 milhões de trabalhadores entraram em greve em resposta ao apelo das principais centrais sindicais (tanto as ligadas aos dois partidos saídos do Partido Comunista Indiano como as tributárias do partido do Congresso. Só não chamou à greve o sindicato próximo do partido no poder, o BJP).
Em carta que nos enviou, um responsável sindical de Mumbai vinca que “em 2015 houve uma greve geral do mesmo tipo: 150 milhões de trabalhadores responderam então ao apelo das organizações sindicais unidas. Desta vez, foram 180 milhões”. A greve estendeu-se a todo o território da Índia, um país com a vastidão de um continente, reflectindo a cólera e a vontade unitária dos trabalhadores. Independentemente do número, esta mobilização à escala nacional é testemunho de que, enquanto se repete até à exaustão que a Índia está dilacerada por divisões religiosas e linguisticamente fragmentada, a sua unidade foi afirmada pela acção da classe operária. Quais eram as reivindicações? A recusa de todos os atentados contra as leis laborais existentes, a exigência de direito à aposentação para todos, o fim das privatizações e, reivindicação central, a passagem a um salário mínimo mensal de 18.000 rupias (cerca de 260 euros por mês), quando, hoje, milhões de trabalhadores recebem menos de 30 euros por mês. A greve foi especialmente seguida no sector público, na banca e nos seguros, minas, portos e estiva. Porém, o número de grevistas é uma indicação de que os trabalhadores do sector informal — que recebem os salários mais baixos, não têm garantias, aposentação ou segurança social — se associaram amplamente ao movimento.
Este levantamento em massa da classe operária indiana é em si mesmo um acontecimento de alcance internacional. Toda a gente assegurava quanto fosse preciso que o actual governo, o governo Modi, que, explorando os factores religiosos, procurava pôr os trabalhadores indianos uns contra os outros, iria, desse modo, conseguir fazer passar as medidas exigidas pelo grande capital financeiro internacional. A greve de 2 de Setembro desmente acerbamente tais afirmações. E esta dimensão confere todo o sentido à realização em Mumbai (Bombaim), em Novembro deste ano, da conferência mundial aberta contra a guerra, a exploração e o trabalho precário, a convite de um sector do movimento operário indiano, que ocupou as primeiras filas da greve de 2 de Setembro.
O nosso correspondente concluía assim: “Apesar das várias greves de vinte e quatro horas realizadas desde 1991 e da paralisação do país durante quarenta e oito horas uma vez ocorrida, a riqueza continua concentrada nas mãos de uma minoria de especuladores. Não são as iniciativas do governo no domínio dos tratados comerciais nem as suas alianças estratégicas que vão melhorar a sorte da população. O que cada um sente é a necessidade de acções unificadas mais prolongadas, combinadas com o reforço da solidariedade internacional.”