Novo governo PS para continuar a política de Bruxelas?

Novo governo PS para continuar a política de Bruxelas?

Só a Mobilização Unida dos Trabalhadores, Só a Greve 
Nos Devolverão as Conquistas Roubadas, os Salários, o SNS e o Futuro

As eleições legislativas deram um resultado claro.

Os trabalhadores não querem o regresso da direita. Não querem a direitaque, às ordens da troika de Bruxelas, arruinou os trabalhadores, agricultores, artesãos e pequenos comerciantes.

A direita, de todos odiada, sofreu um desastre eleitoral, com 37% dos votos para a soma de todos os seus partidos.

A grande maioria dos trabalhadores e da juventude votou nos partidos tradicionais do movimento operário português, no PS e no PCP, e no Bloco de Esquerda. Mas milhões, e cada vez mais, abstiveram-se.

O PS aumentou um pouco o número de votos, mas ficou muito aquém dos que tinha antigamente. O PCP perdeu um em cada quatro votos. O Bloco também baixou.

Para perceber porque os trabalhadores foram tão reticentes em votar no PS, PCP e Bloco, basta ler o que os poderosos deste país disseram da “geringonça”.

Da passada legislatura, dizem os poderosos, por exemplo no Expresso e no Público, que a “geringonça” foi a continuidade da troika; que, se a direita perdeu as eleições, foi ela que ganhou a batalha das ideias, com a política da geringonça; que o PCP e o BE viabilizaram orçamentos de fortíssimaausteridade que degradaram os serviços públicos; e que, diz o Expresso, acabou por ser tudo igual à troika porque a “realidade europeia” tornou os partidos em clones uns dos outros. Tudo isto, infelizmente, é verdade.

Depois das modestíssimas “reposições” (que nem incluíram, por exemplo, o reconhecimento do tempo de serviço roubado aos professores), o governo manteve a legislação laboral e das rendas tal como Passos/Cristas a deixaram, a jeito do patronato e senhorios. O governo anterior manteve os salários reais da função pública muito abaixo do que eram antes da troika e, mantendo a “caducidade” dos contratos colectivos, também os salários no privado.

Para onde vamos, então, com este resultado eleitoral, que, apesar de tudo, é tão favorável às forças do movimento operário?

Os trabalhadores sabem que as famosas “contas certas” por que todos os partidos juram só são certas para destruir as suas conquistas, para manter os salários baixos e as reformas de miséria, para deixar degradar a saúde pública, o ensino público e os transportes públicos à míngua de investimento e estrangulados pelas cativações.

Os trabalhadores sabem também que as contas que valem para os lucros dos capitalistas e para os juros da dívida pagos ao capital financeiro são diferentes. São incertas, são incontáveis os milhares de milhões pagos e a pagar ao Lone Star/Novo Banco. É incerto até onde chegarão os já mais de vinte mil milhões pagos aos accionistas da banca falida. É incerto o paradeiro fiscal do grande capital português, fugido entre a Holanda e os paraísos fiscais.

Perguntamos: os trabalhadores que foram votar esperavam que os seus partidos tradicionais rompessem o espartilho das regras de Bruxelas? Não, os trabalhadores ouviram de todos os partidos da “geringonça” juras pelas contas da “realidade europeia” exactamente iguais às da direita. A tal realidade europeia faz realmente dos partidos que a aceitam “clones uns dos outros”.

Não, os trabalhadores sabiam que não podiam esperar do PS, nem do PCP, nem do Bloco, que eles rompessem com a ditadura da UE, seus tratados, troikas e memorandos passados e futuros.

Ao votarem nos seus partidos tradicionais, os trabalhadores já só esperavam que, estando a esquerda no governo, os ataques aos seus direitos fossem menos violentos do que se estivesse a direita no governo.

No entanto, não faltou violência às requisições civis contra os motoristas e enfermeiros em greve, não faltou violência à mobilização do exército e da polícia contra os motoristas. O governo PS apoiado no PCP e BE fez ataques sem precedentes ao direito à greve.

Mesmo assim, as greves dos enfermeiros, motoristas e outras mostraram que, ache-se o que se achar de alguns dirigentes desses sindicatos, quando os trabalhadores entram em movimento unidos, a sua força, o seu número, é irresistível e tudo vence.

O governo PS e os seus apoiantes no Parlamento dobraram-se à lógica de Bruxelas, dobram-se à “concorrência livre e sem entraves” dos tratados, dobram-se à lógica dos interesses do patronato. É lamentável, mas talvez não inesperado. Foi vergonhoso, porém, ver os dirigentes das centrais sindicais concentrarem, também eles, o seu fogo contra trabalhadores em greve e deixarem passar impunes ataques a direitos fundamentais.

Uma coisa é certa: as massas trabalhadoras, longe de estarem desmobilizadas, estão prontas para a acção. Desde que seja mesmo para ganhar. Se a greve for mesmo para ganhar, e for até ganhar, os trabalhadores vencerão. Já as “jornadas de luta” sem fim, divididas, que a maioria dos dirigentes sindicais prefere, não fazem mossa ao patronato e ao governo e só servem, elas sim, para desmobilizar e desmoralizar.

Passadas as eleições, anuncia-se um novo governo que, com ou sem apoios parlamentares explícitos, será a continuação da geringonça tal como ela realmente sempre foi: o PS a aliar-se “à esquerda” para aumentar um par de euros às reformas e ao salário mínimo e a aliar-se “à direita” para aumentar um par de milhares de milhões aos proventos dos banqueiros privados.

O único caminho para as massas trabalhadoras e a juventude poderem defender e alargar as suas conquistas é o caminho da mobilização e da greve, tomando o seu destino nas suas próprias mãos, rompendo com as contas e os tratados de Bruxelas e as algemas do capital financeiro internacional.

Contas certas, para os trabalhadores, são as que eles próprios controlem, decidindo eles do uso da totalidade dos recursos da nação, em vez de os verem entregues às leis do capital e da exploração.

O grupo A Internacional, que edita o boletim O Trabalho, propõe-se participar na construção do partido de que os trabalhadores necessitam para os ajudar a voltar a esse caminho, o caminho do socialismo.