Antes como depois das eleições: Só a Mobilização Unida dos Trabalhadores, Só a Greve Nos Devolverão as Conquistas Roubadas, os Salários, o SNS e o Futuro

Editorial d’O Trabalho nº15

O que, nestes últimos anos, temos denunciado, nas páginas deste boletim, é confirmado pelo balanço que os poderosos deste país fazem desta legislatura: que a “geringonça” foi a continuidade da troika (Pacheco Pereira); que, com ela, a direita perdeu as eleições, mas ganhou a batalha das ideias (um colunista ultra-reaccionário do Expresso); que o PCP e o BE viabilizaram orçamentos de fortíssima austeridade que degradaram os serviços públicos (Assis, deputado europeu do PS); e que acabou por ser tudo igual (à troika) porque a “realidade europeia” tornou os partidos em clones uns dos outros (editorial do Expresso).

Apesar deste balanço, a maioria dos trabalhadores e da juventude votará, nas legislativas, nos partidos tradicionais do movimento operário português, PS e PCP, e no Bloco de Esquerda.

Votam os trabalhadores por esperar que estes partidos rompam o espartilho das regras de Bruxelas, das agora chamadas “contas certas”? Não. Os trabalhadores sabem que não há que esperar isso do PS, PCP e Bloco. Por isso, aliás, cada vez mais são os que se abstêm.

Os trabalhadores sabem que as famosas “contas certas” só valem para destruir as suas conquistas, manter salários e reformas baixos, degradar a saúde pública, o ensino público, os transportes públicos.

Diferentes são as contas que valem para os lucros dos capitalistas e os juros da dívida pagos ao capital financeiro. São incertos, e muitos, os milhares de milhões a pagar ao Lone Star/Novo Banco. É incerto até onde chegarão os já mais de vinte mil milhões pagos aos accionistas da banca falida. É incerto o paradeiro fiscal do grande capital português, entre a Holanda e os paraísos fiscais.

Porém, todos os partidos, os da “geringonça” e, claro, a direita, já disseram que juravam pelas contas da “realidade europeia”: a mesma realidade europeia que faz deles todos “clones uns dos outros”.

O PS promete no seu programa atacar as “carreiras especiais” do Estado, ou seja, transformar os anos roubados pela troika aos professores em regra geral. E é moda, em nome do “desafio do clima”, prometer fechar centrais eléctricas — e despedir os trabalhadores.

A verdade é esta: ao votarem nos seus partidos tradicionais, os trabalhadores já só esperam que, estando eles no governo, os ataques sejam menos violentos do que se for a direita.

No entanto, não faltou violência às requisições civis e à mobilização do exército e polícia contra motoristas e enfermeiros. O governo PS apoiado no PCP e BE fez ataques sem precedentes ao direito à greve.

Compreendia-se perfeitamente o susto do patronato. As greves de enfermeiros e motoristas mostravam que, ache-se o que se achar de alguns dirigentes desses sindicatos, a força dos trabalhadores, do seu número, é imensa e tudo vence.

Lamentavelmente, o governo dobrou-se, como sempre, à lógica dos interesses do patronato, que é a lógica de Bruxelas, a lógica da “concorrência livre e sem entraves”. Para os trabalhadores, o mais vergonhoso foi, porém, ver os dirigentes da CGTP e UGT concentrarem também eles o seu fogo contra os trabalhadores, deixando passar impunes os ataques a direitos fundamentais.

Uma coisa ficou clara: as massas trabalhadoras, longe de estarem desmobilizadas, estão dispostas à acção, desde que seja mesmo para ganhar. E que se a greve for mesmo para ganhar, e for até ganhar, os trabalhadores vencerão. Já as jornadas de luta sem fim, divididas, que os dirigentes sindicais preferem, não só não “destabilizam” o patronato nem o governo, como servem, elas sim, para desmobilizar e desmoralizar os trabalhadores.

Quaisquer que sejam os resultados das eleições, o único caminho para as massas trabalhadoras e a juventude poderem defender e alargar as suas conquistas é o caminho da mobilização, de tomar o seu destino nas mãos, romper com as contas e os tratados de Bruxelas e as algemas do capital financeiro internacional.

Contas certas, para os trabalhadores, são as que eles próprios controlem, determinando o uso de todos os recursos da nação, em vez de os verem entregues à lei do capital e da exploração. O boletim O Trabalho propõe-se participar na construção do partido de que os trabalhadores necessitam para os ajudar a voltar a esse caminho, o caminho do socialismo.