Orçamento dos 0,3% é um insulto a quem trabalha e deve ser rejeitado!

Editorial do nº 16 d’O Trabalho

Aumento Geral dos Salários!

O novo ano inicia-se sob o signo do projecto de orçamento 2020 apresentado pelo governo à Assembleia.

O projecto segue as linhas do mandato dado pela Comissão da UE ao governo (ver centrais): 1) défice “estrutural” zero, para o país poder deixar de levar calduços da troika; 2) pagamento da dívida dos hospitais, para os fornecedores sobreviverem.

Estas prioridades, bastante crassas, são vendidas assim pelo governo de António Costa: “Prioridade à saúde! Primeiro superávit da democracia!” Falsificação grosseira, cujo objectivo é enganar os trabalhadores que os elegeram. A imprensa, claro, compra.

Mas, quando a desfaçatez é tal, que o governo anuncia aos funcionários um “aumento” de vencimentos de…0,3%, pergunta-se: porque alinham PCP, Bloco e deputados do PS nesta dança miserável?

Os dirigentes sindicais, é certo, indignaram-se brevemente: que era um insulto aos trabalhadores! Mas não regressaram eles logo a seguir ao regateio de migalhas na “concertação social”, onde o governo propôs a sua “política de rendimentos”, a política de continuar a tirar aos salários do trabalho para dar aos lucros e juros?

Os salários, hoje: uma parte do rendimento nacional inferior ao que era no fim da ditadura (ver p. 3)!

Insulto aos trabalhadores, sim, que deram dois terços dos votos aos partidos que falam em seu nome, infligindo à burguesia uma das maiores derrotas da história da democracia — para usar a fór mula da moda.

Não diz o Expresso (21/12) alegremente que “falta agora saber se uma mão-cheia de migalhas para 2020 e outra cheia de promessas para 2021 chegam para convencer os partidos à esquerda sobre a aprovação desta proposta de Orçamento do Estado e se são suficientes para manter os empresários em clima de lua de mel com António Costa”?

Alegremente? Talvez; mas nota-se a preocupação. A direita sofreu uma derrota eleitoral estrondosa. Resta, pois, a “esquerda” para fazer a política da UE no governo — bem o sabe Marcelo, que já deu as suas instruções à dita esquerda, para a política de lua de mel com os patrões e de exploração sem peias poder continuar.

Porque o paradoxo é esse: os trabalhadores não estão fracos; fraca está a burguesia, fraca ficou a direita.

Motoristas, enfermeiros, estivadores e outros estiveram à beira de mostrar como a sua luta pode parar o país e dobrar o governo — assim os dirigentes do movimento operário estejam à altura.

E esta verdade vale no mundo inteiro, não só em Portugal. Quando o imperialismo prepara a guerra e a barbárie, quando a UE manda os governos europeus atacar os povos sem trégua — a greve contra a reforma das pensões em França continua há quase um mês; na Argélia, as massas lutam há quase um ano contra o regime que se tenta salvar; no Chile, levantam-se contra o regime herdado de Pinochet. Em Espanha, a monarquia herdeira de Franco vacila.

Construir uma direcção para o movimento operário que seja inteiramente independente da burguesia e da sua UE é o que permitirá vencer.