O Governo UE/Marcelo/Costa Caiu…

…Chumbado o Orçamento dos 0,9%

Geringonça”? Talvez fosse. 

Não, porém, no sentido geralmente dado. Geringonça porque, na realidade, foi um “bloco total”. 

Bloco com BE e PCP para darem o voto no exercício orçamental anual (na realidade, negociado meses antes com a Comissão Europeia); bloco com PSD, CDS, IL, Chega, para votar as coisas importantes: milhares de milhões para os banqueiros e o ferrolho à revogação das leis laborais da troika. 

Em tal prestidigitação se esgotou a famosa “habilidade política” de António Costa. A sua geringonça não foi mais do que uma máquina mirabolante com o condão de pôr os “partidos da esquerda” a votar os orçamentos de austeridade ditados pela UE e sua troika.

Pelo orçamento do Estado para 2022, seu sétimo, o governo anunciara ainda mais austeridade. Que incluía  um “aumento salarial” de 0,9% para os funcionários públicos. Segundo Costa, para “manter o poder de compra”… Um gráfico publicado pelo Público a 10 de Outubro (imagem), comparava inflação (linha vermelha) e aumentos anuais na função pública (barras verdes) desde 1986. O topo do gráfico vale mais que mil palavras. Desde 2009, com Passos como com Costa, os aumentos foram zero. A inflação total, 25%. O salário real caiu 20%

Não há editorialista neste país que não dê de barato que todos os orçamentos de austeridade e miséria do governo Costa podiam ter sido escritos, negociados, aprovados, tal qual, com o PSD/CDS. Até Rui Rio, o bom sacristão frustrado, desde sempre o disse.

Ora, Costa ousou o orçamento de 2022 após 13 anos sem aumentos salariais – anos que incluíram os roubos selvagens da troika. Roubos que, mau grado parcas “reversões”, nunca foram totalmente recuperados.

A “geringonça” continuou a troika. Sob mau disfarce.

Costa ousou-o depois de seis anos a proteger o código do trabalho de Passos Coelho. Com o que conseguiu que tão-pouco houvesse aumentos no privado.

Costa ousou-o depois de, na pandemia, ilibar os patrões da sua responsabilidade primeira, a de pagar o salário. Pôs os trabalhadores a pagarem a maior parte do seu próprio salário dos fundos da segurança social, que asseguram o seu salário ou pensão no futuro.

Costa ousou-o quando as grandes empresas despedem aos milhares, quando  os patrões prometem mais de um milhão de despedimentos nos próximos anos.

Ousou-o quando a “transição verde” e a “transição digital” da União Europeia já começaram a disparar a sua bazuca contra os operários da GALP e os empregados bancários. E têm na sua mira assassina a TAP, a EFACEC, a Groundforce, a ALTICE.

Ousou-o quando sobe em flecha o preço da electricidade e dos combustíveis – para o mais ofuscado  perceber quem vai pagar a “salvação do planeta”.

A política seguida foi sempre a mesma: subir devagarinho o salário mínimo até apanhar os outros salários, congelados; destruir os contratos colectivos; generalizar a precariedade; alimentar a especulação imobiliária e turística.

Reunidos na Fábrica de Braço de Prata em Lisboa, a 23 de Outubro, cem sindicalistas, membros de CTs e jovens apontaram outro caminho: o de 

reconstruir a independência e a unidade do movimento dos trabalhadores e opora arma da greve e da resistência ao garrote da União Europeia(seja Costa ou outro o encarregado de apertá-lo).

O povo trabalhador deste país é o soberano teórico da Constituição. Mas há muito que, expropriado pelos tratados europeus, nada manda. 

Para se salvarem, para salvarem o país, para salvarem o ambiente, têm de ser os trabalhadores a exercer todo o poder