Não à Guerra, Não à Exploração!

Editorial do jornal dos nossos camaradas franceses La Tribune des Travailleurs, de 24 de Fevereiro de 2022

Guerra na Ucrânia

Não à Guerra, Não à Exploração!

Ao escrever estas linhas, ninguém sabe no que irá dar a escalada bélica na Europa oriental. Tudo é possível. Há, no entanto, algumas coisas que se sabem. 

Sabe-se que os povos não têm nenhum interesse no confronto. O trabalhador russo não é inimigo do trabalhador ucraniano, e este não é inimigo do trabalhador russo. O trabalhador francês não é inimigo nem do trabalhador russo nem do trabalhador ucraniano nem do trabalhador americano.

Sabe-se que todos os governos estão metidos na escalada da guerra. Tudo começou pela vontade da administração americana de reforçar o cerco militar à Rússia, fazendo pressão para que a Ucrânia aderisse à NATO. Sendo a Ucrânia o maior e mais populoso país europeu com fronteira com a Rússia, essa adesão foi considerada pelo governo russo como uma ameaça. Aí começou a escalada, aparecendo agora Putine a passar uma nova barreira com a entrada das tropas russas no Donbass.

Sabe-se, ainda, que nada disto tem que ver com o direito dos povos. O imperialismo americano tornou patente o que para ele significa o direito dos povos no Afeganistão, no Iraque, na Líbia e em todos os pontos em que as suas intervenções despedaçaram nações, desarticularam países inteiros, permitiram o massacre de populações civis e atiraram para o exílio milhões e milhões de homens, mulheres e crianças.

O governo russo nada tem a invejar-lhe, como tem demonstrado com frequência. Há um mês, mormente, quando tropas russas intervieram no Cazaquistão para esmagar a revolta operária. De notar que nem Biden, nem Macron, nem nenhuma potência capitalista protestou contra este esmagamento sangrento de operários que se insurgiam contra as consequências de privatizações. A verdade é que, quando é para fazer passar privatizações, no Cazaquistão como na Rússia, em França ou nos Estados Unidos, Biden, Putine e Macron estão prontos a fazer causa comum.

Para justificar a intervenção das suas tropas, Putine denuncia a existência da Ucrânia como uma consequência da revolução de 1917. Que havia de ser rebaptizada “Ucrânia Vladimir Ilitch Lenine”, ironizou, numa homenagem involuntária deste antigo membro da nomenklatura soviética, deste agente da polícia política do estalinismo reconvertido às alegrias da privatização mafiosa, à revolução operária na Rússia. Porque foi realmente a revolução que libertou as nacionalidades oprimidas do antigo império czarista, abrindo passo a uma Ucrânia independente. Com tal recordatória, Putine está dizendo às potências capitalistas ocidentais: “Estamos todos do mesmo lado, que é o lado da opressão dos povos, o lado dos anticomunistas, não se enganem de adversário”.

Sabe-se que tudo isto também nada tem que ver com defesa da democracia e das liberdades. Da Arábia Saudita ao Qatar, passando por numerosas ditaduras mais, sabe-se quem são os aliados das “democracias ocidentais”. Quanto a Macron, que acaba de ser escorraçado do Mali depois de anos de intervenção sangrenta e dispendiosa, sabe-se que, do cantinho que o imperialismo americano ainda lhe deixa, ele é capaz de desempenhar o seu papel no grande concerto das intervenções militares contra os povos, em África, mas não só.

Sabe-se, por fim, que a escalada da guerra no Leste da Europa é uma benesse. Uma benesse para a indústria do armamento, que vive um surto considerável em todo o mundo graças à constante expansão dos orçamentos militares, mormente nos Estados Unidos. Uma benesse para as multinacionais americanas do gás e do petróleo e as suas produções de gás do xisto. 

Por todas estas razões, quem queira situar-se no campo da paz e da democracia e defender os interesses dos trabalhadores e dos povos tem o dever de lutar resolutamente contra a escalada em curso e aqueles que a organizam. 

Em França, uma vez mais, constitui-se uma espécie de união nacional atrás de Macron. Nela tomam o seu lugar, na denúncia comum de Putine, todos os partidos institucionais, de direita como de esquerda, o PS e os Verdes, mas também Fabien Roussel, candidato do PCF, que chega ao ponto de declarar em apoio à posição de Macron: “Considero que ele está tomando todas as iniciativas que é preciso tomar para encorajar o diálogo franco, leal e directo com todos os intervenientes”. Menos entusiasta de Macron, Jean-Luc Mélenchon junta-se ao consenso geral, acusando “a Rússia [que] arca com a responsabilidade, é preciso condená-la, é do nosso interesse bem compreendido”.

É preciso condenar a Rússia, que arca com a responsabilidade da situação, diz Mélenchon… é preciso inclusive apoiar Macron, diz Roussel… O mesmo Macron que acaba de exigir sanções contra a Rússia, indo atrás, como é costume, das exigências dos seus patrões de Washington. Sanções? Sabe-se o que são sanções, conhecem-se as suas terríveis consequências, viu-se em Cuba, no Irão, na Venezuela… Pode-se apoiar o Macron que exige sanções e, do mesmo passo, pretender que se defendem os interesses dos trabalhadores e dos povos?

Seja em que circunstâncias for, Macron actua ao serviço das multinacionais, mormente, hoje, das ligadas às armas, ao petróleo e ao gás. Da mesma maneira que tem estado ao serviço dos capitalistas nos últimos dois anos, quando lhes ofereceu 600 mil milhões de euros, de que eles se servem para despedir e especular. Deparamo-nos, neste mês de Fevereiro de 2022, com a mesma combinação de união nacional a que se assistiu no dia 19 de Março de 2020, com todos os partidos da Assembleia Nacional a votarem a favor da primeira fatia entregue aos capitalistas, no valor de 343 mil milhões de euros.

Para a classe trabalhadora francesa, o primeiro inimigo é o seu próprio governo, o governo Macron, em guerra no exterior contra os trabalhadores e os povos do mundo, em guerra social no interior contra os trabalhadores e a juventude.

A única posição que se coaduna com os interesses da classe trabalhadora e com o internacionalismo é esta: nem um tostão para os fautores de guerra, nem um centavo para as aventuras militares na Europa de Leste, no Mali ou seja onde for! Tropas francesas, fora do Mali, da Roménia e de todos os teatros de operações exteriores! Fora Macron e o seu governo de guerra e exploração! Não à união nacional!

Pela cooperação livre e fraterna entre os trabalhadores do mundo inteiro, pela retirada da França de todas as alianças militares e diplomáticas contra os interesses dos povos, por um governo ao exclusivo serviço do povo trabalhador e da maioria: adiram ao Partido Operário Independente Democrático, membro do Comité Operário Internacional contra a guerra e a exploração, pela Internacional Operária.