Macron derrotado, Macron rejeitado,

é hora de um governo ao serviço do povo trabalhador!

Nunca desde que se organizam eleições legislativas – desde 1876, portanto! – a abstenção atingira tais níveis: 53% em todo o país, até 80% e mais nas secções de voto dos bairros populares.

Neste 12 de Junho, Macron foi derrotado, recolhendo apenas 12% dos votos dos eleitores recenseados.

Neste 12 de Junho, o povo trabalhador e a juventude disseram: não nos revemos nesta Vª República antidemocrática que proclama “vencedor” um partido rejeitado por quase 90% dos eleitores recenseados, oferecendo-lhe antecipadamente a maioria dos assentos na Assembleia Nacional.

Nesta Vª República que tem no presidente a sua pedra de fecho, nunca se tinha visto o partido presidencial fragilizado a este ponto. O pedestal das instituições abre fendas por toda a parte.

Os trabalhadores, que há meses se vêm desdobrando em greves pelas suas reivindicações, rejeitam os projectos de Macron de destruição das pensões de aposentação e dos serviços públicos. Querem que os dinheiros públicos sejam postos ao serviço do povo e da juventude. Para isso, é preciso impedir Macron de continuar a desviar centenas de milhar de milhões de euros dos orçamentos públicos para financiar a guerra e engordar os banqueiros, capitalistas e especuladores.

Para responder a esta aspiração, vai ser preciso varrer a Vª República e estabelecer uma República verdadeiramente democrática, assente na proporcionalidade plena, uma República do povo soberano, livre de decidir que as riquezas produzidas pelo povo beneficiem o bem-estar do povo. E, para isso, será preciso convocar a Assembleia Constituinte soberana, incumbida de definir como deva ser, quanto à sua forma e ao seu conteúdo, tal democracia.

O balanço é, com efeito, claro: neste dia 12 de Junho, todas as representações políticas institucionais perderam para a primeira volta das presidenciais. O partido Ensemble [de Macron] perde 3,8 milhões dos 9,8 milhões de votos conseguidos por Macron no dia 10 de Abril. A Nupes [frente encabeçada por Mélenchon] perde mais de 5 milhões dos 11 milhões de votos recolhidos pelos cinco candidatos de 10 de Abril que viriam a unir-se debaixo da sua insígnia e mesmo 2 milhões para o resultado de Mélenchon sozinho. O Rassemblement National [de Marine LePen] perde 4 milhões de votos para o seu resultado de 10 de Abril.

Embora seja possível que a Nupes consiga um número grande de assentos na segunda volta, o objectivo que era o seu desde a sua constituição – “eleger Mélenchon primeiro-ministro”, ganhando a maioria dos deputados – parece fora de alcance.

Nos bairros populares, a Nupes não conseguiu mobilizar o eleitorado operário e jovem. Não sofre dúvida de que o seu proclamado objectivo de coabitar com Macron, portanto de governar com ele, bem como o seu compromisso de respeitar as instituições, o seu sentido de voto na Assembleia Nacional em 2020, quando da oferta de centenas de milhar de milhões aos capitalistas, ou o seu voto de 2022 no Parlamento Europeu a favor de reforçar o esforço de guerra na Ucrânia e apoiar a NATO, a sua gestão autárquica, em que se fez correia de transmissão da política do governo, nomeadamente por via das privatizações e da aplicação da lei Dussopt contra os funcionários, não sofre dúvida de que tudo isso contribuiu para dar à Nupes um carácter muito institucional, de costas voltadas para a ruptura real com a exploração capitalista e a Vª República. Já sem contar a presença nas suas listas de um partido abertamente burguês, pró-europeu e pró-austeridade (o EELV), de candidatos acabados de se passar de Macron para Mélenchon e de deputados que ainda há pouco tempo apoiavam a política de Hollande-Valls-El Khomri.

Não há dúvida que, na segunda volta, os trabalhadores voltarão a tentar infligir ao partido macronista a derrota que a sua política anti-operária merece. Mas o problema não desaparece: depois de 19 de Junho, como acabar com este regime de miséria e exploração?

O POID fez campanha por um governo dos trabalhadores, um governo sem Macron nem patrões, que tomasse medidas de urgência ao serviço do povo trabalhador e da juventude.

No contexto marcado pela abstenção massiva, por um lado, e pelo movimento de uma parte do eleitorado popular em direcção à Nupes, por outro, os 24.702 eleitores que votaram pelos 115 candidatos do POID exprimiram o seu acordo com a necessidade de lutar por um tal governo de ruptura. 

É a luta em que vamos perseverar. O que os trabalhadores e os jovens não conseguiram impor pelas urnas, compete-lhes impô-lo pela luta, na luta de classes.

Trabalhadores, jovens, militantes, aderindo ao POID, estareis a ajudar a classe dos explorados a organizar a sua acção independente para acabar com a exploração e a opressão em todas as suas formas.

NB: Quanto à segunda volta, a posição do POID é a seguinte:
– Nem um voto em Macron, na direita e na extrema-direita, nem um voto em candidatos pró-capitalistas seja de que lista forem.
– Nos círculos em que os candidatos da Nupes que defrontam candidatos da reacção na segunda volta estão, pelo seu compromisso ou pela história do seu partido, ligados ao movimento operário, o POID apela a votar neles, embora sem aderir ao seu programa.

O secretariado nacional do Partido Operário Independente Democrático
Montreuil, 13 de Junho de 2022