Putin, o chefe da mafia oligárquica da Rússia, anunciou a mobilização de 300 mil reservistas. Perdera o controlo da cidade de Izium, perto de Kharkiv, recuperada por um exército, dito ucraniano, mas treinado pela NATO, armado pela NATO, guiado pelo sistema de informações e espionagem da NATO e dirigido pela estrutura de comando da NATO. Só os EUA já gastaram com a guerra na Ucrânia mais de 14 mil milhões de dólares. Na guerra que a NATO trava na Ucrânia, só a carne para canhão é ucraniana.
Pouco depois, em discurso ao mal crismado Parlamento Europeu, a presidente da Comissão Europeia, ataviada de azul e amarelo, aureolada das estrelas vaticanas da bandeira da UE e acolitada pela própria sra. Zelenska, pôs os pontos nos is: é a guerra santa, meus amigos. É para a guerra que vamos. Enquanto a Rússia não se puser de joelhos, enquanto não ficar decisivamente enfraquecida, não haverá paz…
O secretário-geral da NATO, Stoltenberg, antigo primeiro-ministro social-democrata (!) da Noruega, responde ao anúncio de Putin de que a Rússia se defenderia “por todos os meios”, declarando que a Rússia não ganharia uma guerra nuclear – depreendendo-se: o Ocidente do sr. Stoltenberg ganharia a guerra nuclear – e está pronto para travá-la!
A compasso, rufam os tambores da guerra social
Os banqueiros centrais do mundo aumentam as taxas de juro e avisam que, agora, é a doer.
O Bundesbank anuncia para o inverno uma recessão económica profunda na Alemanha.
Em França, Macron anuncia o “fim da abundância”, cá conhecida como “vacas gordas”. E prepara-se para fazer passar em força uma “reforma” das aposentações, apesar de, na primeira tentativa que fez, isso quase lhe ter custado as eleições presidenciais e lhe ter feito perder a maioria no Parlamento.
Em Itália, uma fascista “ganha” as eleições – com o voto de um em cada seis eleitores, não mais.
Os editorialistas europeus e, entre eles, os portugueses, campeões do “equilíbrio” e do “bom senso”, baixam as orelhas e conclamam, uníssonos: vem aí sangue, vem aí suor, vêm aí lágrimas… dos trabalhadores.
O Expresso, citando economistas bem informados, diz que vem aí uma depressão económica só comparável à grande depressão dos anos trinta do século passado. A que acabou na Segunda Guerra Mundial.
O editorialista do Público, M. Carvalho, voz do grupo Sonae, escreveu (a 19 de Setembro) que “actualizar as pensões e aumentar os funcionários públicos na casa dos 6 a 8% (…) adiaria o problema para o futuro. Os tempos estão incertos, os juros de uma dívida gigantesca vão começar a doer e o país já conheceu na década passada o gosto amargo das políticas voluntaristas. Há quem acredite que o país pode aumentar a despesa em quatro mil milhões num estalar de dedos para compensar a inflação. Costa não acredita e segue o caminho da austeridade.”
Apoia, pois, com austera firmeza, a declaração de cortes a eito de salários e pensões feita por A. Costa. Mas o homem do Público, sério e responsável, jesuíta entre jesuítas, não deixa de criticar a má “comunicação” do primeiro-ministro. Aparentemente, não é a ideal para fazer engolir a pílula envenenada aos trabalhadores. O erro de Costa, merecedor de compaixão: ter-se deixado armadillhar e enrodilhar pela “oposição” que outrora ele próprio verbalmente fez à mesmíssima austeridade aplicada por Passos Coelho. E ter proclamado “virar a página da austeridade”, apenas para trazê-la pouco depois em dobro pela sua própria mão…
A renovada austeridade não é, contudo, para todos
Apoiados nas sanções dos EUA/NATO/UE à Rússia, os grandes especuladores financeiros internacionais e grandes grupos multinacionais da energia, mineração e de muitos outros sectores fizeram disparar os preços dos combustíveis e matérias-primas e de muitos produtos antes comprados à Rússia ou à Ucrânia – ou usando simplesmente a guerra como pretexto – , registando lucros fabulosos e aumentando drasticamente os preços ao consumidor da grande maioria dos produtos e serviços.
Mas, em França, houve uma primeira tentativa de greve geral no dia 29 de Setembro. Na Grã-Bretanha, os movimentos de greve de numerosos sectores, nomeadamente dos transportes, procuram o caminho para a greve geral. Na Alemanha, multiplicam-se as greves.
Na Rússia, milhares de mulheres saem à rua para se oporem à mobilização dos maridos e filhos. Na Ucrânia, mineiros opõem-se pela greve ao capitalismo selvagem da oligarquia.
As aspirações dos povos a livrarem-se do jugo do grande capital encontram também expressão na insurreição que derrubou o governo corrupto do Sri Lanka, nas grandes manifestações e greves na Etiópia contra a carestia, assim como nos recentes resultados eleitorais no Chile e na Colômbia. A provável vitória de Lula no Brasil confirmá-lo-ia.
Como este confronto só pode agudizar-se, o capital começa também a preparar as suas hostes fascistas para o que der e vier. As recentes eleições italianas aí estão a mostrar a cor.
Se a crise põe uma coisa de manifesto, é, com efeito, a alternativa iniludível:
– ou o trabalho expropria o capital, levando ao poder o seu próprio governo de classe e tomando as medidas necessárias para salvar da destruição os trabalhadores e povos do mundo;
– ou o capital expropria o trabalho das poucas regalias e direitos que lhe restam e generaliza a guerra, a carestia, a miséria e a fome.
Entre estas duas variantes, não cabe uma folha de papel. Aqueles que insistem na concertação e na colaboração de classes fazem-se agentes da divisão e desmobilização da classe trabalhadora e do triunfo do patronato e das forças da guerra.
Conforme um militante internacionalista italiano conclui (ver artigo neste número) face ao triunfo da admiradora de Mussolini no seu país, os que se batem pelos interesses dos trabalhadores não têm outra saída a não ser unirem-se para reconstruir o partido dos trabalhadores, independente da burguesia e das suas instituições, para abrir caminho à ruptura com as instituições da União Europeia e do imperialismo internacional e com as políticas capitalistas de guerra e destruição que elas impõem ao mundo.