Grã-Bretanha: Está no ar a greve geral pelos salários

O movimento de centenas de milhares de grevistas esbarra na política dos dirigentes do Partido Trabalhista e do TUC, que protegem o governo conservador

18 de Agosto: mais de 40 mil ferroviários de quatorze empresas privadas, com os seus sindicatos RMT e TSSA, em greve até 20 de Agosto, paralisam o sistema ferroviário do país. 

19 de Agosto: Por convocação do RMT, 10 mil empregados do metro de Londres aderem à greve, enquanto 1.600 trabalhadores da rede de autocarros iniciavam dois dias de luta.

Nos dias 26, 27, 30 e 31 de Agosto e, seguidamente, nos dias 8 e 9 de Setembro, farão greve cerca de 115 mil trabalhadores dos correios (Royal Mail), sindicalizados no CWU. Nos dias 30 e 31 de Agosto, juntar-se-lhes-ão 50 mil trabalhadores da British Telecom, também sindicalizados no CWU. 

Mais de um milhão de trabalhadores da saúde e um milhão de trabalhadores dos sectores do ensino e das autarquias locais estão-se a preparar para a greve, cumprido o longo processo imposto pelas leis anti-sindicais, mantidas por todos os governos, de direita como de “esquerda”. Paralelamente, multiplicam-se greves selvagens, nascidas da base: 1.900 estivadores do porto de Felixstowe, a que se seguiram 500 estivadores de Liverpool, votaram pela greve. Milhares de trabalhadores têm estado em greve na Amazon.

Um movimento poderoso…

Face à carestia e à recusa de aumento de salários, os trabalhadores britânicos põem-se em greve aos milhões e, apesar dos obstáculos, procuram o caminho da greve geral. O nível de vida dos trabalhadores ingleses está em queda livre, quando a previsão da inflação já vai em 18% até ao fim do ano. O preço da electricidade e do gás dispara, impedindo milhões de se aquecerem no inverno. Estão a aparecer “bancos de calor”, segundo o modelo dos bancos alimentares, para as pessoas se poderem ir lá aquecer! É a barbárie, imposta pelo governo conservador, com a cumplicidade da direcção do Labour. Entretanto, a Grã-Bretanha é o segundo maior fornecedor de armas à Ucrânia, a seguir aos EUA.

Ganha expressão, na base, um movimento poderoso que procura criar a unidade de todas as profissões. Contava um militante operário de Liverpool – onde, no fim de semana, além dos tradicionais piquetes de greve, houve concentrações de grevistas – que “reina em Liverpool um bom estado de espírito; há muita gente que parece pronta para se bater. (…) Os trabalhadores parecem determinados a unirem-se na luta. Novas camadas da população estão a aderir aos protestos.” A potência do movimento preocupa – não só na Grã-Bretanha: “Espectro da greve geral para dizer não à inflação” (segundo France 24, 21 de Agosto).

… que esbarra na política dos dirigentes 

Perante as greves, Keir Starmer, o dirigente do Partido Trabalhista – o Labour, partido histórico da classe operária, fundado pelos sindicatos há cento e vinte anos – transformou-se no mais porfiado defensor do governo conservador, multiplicando-se em declarações a denunciar as greves e a ameaçar expulsar do partido os responsáveis que participarem em piquetes de greve.

Não é só o partido, porém: segundo a legislação anti-sindical em vigor, só a direcção do Trades Union Congress (TUC), a central sindical, pode convocar uma greve geral. Ora, os dirigentes do TUC estão alinhados com os do Labour Party e não têm a mínima intenção de convocá-la; ainda menos estão interessados em que a questão se suscite no congresso nacional, daqui a três semanas.

Interrogado pela Sky News no dia 19 de Agosto (“Em sua opinião, estamos ou não á beira de uma greve geral?”), Mick Lynch, dirigente do RMT (ferroviários) e um dos porta-vozes do novo movimento “Enough is enough!” (“Já basta assim!”), que reúne sindicatos e a “esquerda” do Labour, respondeu: “Parece-me que as greves serão generalizadas e sincronizadas, talvez não da maneira tradicional.”

A questão que se põe, independentemente do que achem fulano e beltrano, é saber como é que os ferroviários, os estivadores, os motoristas de autocarro e os maquinistas do metro, os carteiros, etc., hão-de conseguir ganhar? Não sobra dúvida de que, nesta situação, um apelo claro dos dirigentes à greve geral seria determinante.

(Adaptado de artigo de JP Barrois em La Tribune des Travailleurs, 24 de Agosto)