À GUERRA SOCIAL OPOR A GREVE GERAL

PROFESSORES ENCHEM A RUA PELA TERCEIRA VEZ

Editorial d’ “O Trabalho” nº28

GOVERNO ATOLA-SE NA POLÍTICA DE GUERRA
• Tanques para a Ucrânia;
• “Bazuca” de milhões para os patrões;
• Proibição da greve e miséria para os trabalhadores!

Por três vezes em quatro semanas, os professores e profissionais de educação saíram à rua às dezenas e centenas de milhar.

Primeiro ao apelo apenas do S.TO.P., por duas vezes, a 14 e a 28 de Janeiro. De ambas as vezes, uma massa imensa de professores e não docentes, auto‐organizados, vindos de todo o país, marcharam pelas ruas de Lisboa.

No dia 11 de Fevereiro, de novo, a massa dos professores, a larga maioria dos professores do país, realizou na rua a unidade da classe com todas as organizações.
Unidade da classe que impôs a sua lei às próprias direcções sindicais maioritárias – que, recorde‐se, não queriam fazer nada até Março…

E “eles” ficaram com medo.

Editorialistas da pena liberal furibunda ou da “esquerda” institucional elegante, comentaristas profissionais tudólogos, o Presidente que muda de ária consoante o que fareja no ar, todos eles se encheram de medo. E vá de admoestarem os Costas: “Cuidado! Não se pode ceder aos professores, isso nem pensar, devolver‐lhes o que é direito deles, não, os professores são um custo orçamental, são défice, são dívida, o que conta são os compromissos europeus… Mas ó Costas, mesmo assim, vejam lá, desarrinquem lá um gesto qualquer que saia barato e os faça ir para casa e reabrir a escola! Porque se não… ele foi as greves na TAP, ele é a dos professores, a dos ferroviários… é preciso cuidado, não se sabe onde é que isto vai parar! Se esta gente perde o medo, somos «nós» que ficamos entalados entre a espada da “rua” e a parede do Berlaymont (sede da UE)!

Ficaram com medo.

“Eles” viram que os professores não se cansam. Quando os quiseram desmobilizar e dividir, os professores mobilizaram‐se, organizaram‐se, uniram‐se, arrastaram atrás deles todas as direcções, até as “do sistema”, receosas de perder o pé.

“Eles” julgaram que iam ter paz: o governo, a fazer o seu trabalho de carrear ordens e fundos de Bruxelas e cortar salários e direitos, os gabinetes de advogados e empresários de sucesso a canalizar, peneirar e embolsar os milhões, as direcções sindicais “do sistema” a organizar greves e jornadas “responsáveis”, às pinguinhas, sem efeito prático a não ser dividir e cansar e desmoralizar.

É certo que este governo e os anteriores saíram do voto dado pelos trabalhadores para impedir o regresso dos da troika. Mas “eles” acharam que, agora até com a estabilidade da maioria absoluta, iam poder continuar, felizes e contentes, os seus lucrativos joguinhos e manigâncias.
Enganaram‐se.

Julgaram que os trabalhadores iam aceitar, submissos, trabalhar cada vez mais tempo por cada vez menos salário, habitar em buracos cada vez mais ínfimos, infames ou longínquos, “habituar‐se” a um futuro de pensões de miséria.
Enganaram‐se.

Os professores encheram a rua. E encheram‐nos de medo a “eles”.

Porque os professores, os trabalhadores, são os muitos.

E “eles”, com todo o seu poder, são os muito poucos.

Não os vamos deixar em paz, decidiram os professores.

As direcções sindicais e políticas do movimento dos trabalhadores que têm garantido a estabilidade do regime, como a direcção da Fenprof, cujo chefe se auto‐intitulou “sindicato do sistema”, viram‐se obrigadas, desta vez, a juntarem‐se a um movimento de massas que as atropelou. Agora repetem, com os professores, “não paramos”. E, com os professores, repetem “6 anos, 6 meses, 23 dias” (apesar de antes os terem dado de bandeja na “negociação”).

Muito bem.

Mas, passada a manifestação, é necessário que continuem a repetir o que os professores querem.

Para já, parecem antes querer voltar à antiga. Prometeram novas manifestações para Março – e, até lá, nada, dando tréguas ao outro lado.

Só o S.TO.P. mantém a greve por tempo indeterminado. O governo aproveita: acaba de decretar a quase total proibição da greve do S.TO.P., com serviços mínimos extensos, sem precedentes – como prevíramos no artigo publicado neste número sobre o acórdão do “colégio arbitral”, publicado em linha logo que o acórdão inicial saiu.

A manobra do governo de aproveitar a brecha da divisão nas formas de luta para atacar separadamente o S.TO.P. é transparente. Mas o novo acórdão não ataca apenas a greve dos professores e o S.TO.P.. Os serviços mínimos que decreta ferem de morte o direito à greve de todos os trabalhadores.

A resposta tem de ser unida. Todos os sindicatos devem declarar também eles greve, repetir nas formas de luta nas escolas a frente unida que os professores impuseram nas marchas.

E as centrais sindicais têm de cumprir com urgência o mandato para que existem – unir as greves e lutas de todos a caminho da greve geral:

– pela indexação dos salários à inflação e pelo seu aumento geral;
– pelas 35 horas para todos;
– pelo confisco dos super‐lucros da guerra e da inflação;
– pelo congelamento das rendas de casa, das prestações do crédito à habitação e dos preços dos bens de primeira necessidade e combustíveis;
– pela revogação das leis laborais da troika, o fim definitivo da caducidade, o regresso à contratação colectiva para todos;
– pelo fim da uberização e da precariedade.

Os professores apontaram o caminho a seguir, o caminho da unidade e auto‐organização na base para impor depois a unidade também no topo: plenários nas empresas e serviços para aprovar as reivindicações urgentes, eleger delegados e organizar a resistência, com os sindicatos e comissões de trabalhadores, ligar e coordenar as lutas e as greves e organizar a greve geral!