Levantem o bloqueio a Gaza!

Eles organizam a fome, eles matam

Para além dos bombardeamentos incessantes, Israel utiliza agora a fome como arma de guerra. No Cairo (Egipto), as intermináveis negociações para uma trégua não produziram qualquer resultado até ao momento. Seguro de que as entregas de armas americanas e europeias vão continuar, Netanyahu prossegue o genocídio.

No 150º dia da ofensiva israelita, “Israel está a organizar a fome em Gaza“, denuncia o jornalista Moustafa Abou Sneineh, na Mondoweiss* (4 de Março): “Pelo menos um quarto da população de Gaza está à beira da fome e já há relatos de bebés e crianças que morreram. Os preços dos poucos frutos e legumes disponíveis nos mercados subiram em flecha. “

A administração americana, com a ajuda da força aérea jordana, lançou de pára-quedas uns poucos pacotes de ajuda humanitária… que acabaram no fundo do mar. Numa operação de pura comunicação, não dava para ir por terra e pôr em causa o bloqueio assassino imposto por Israel a Gaza desde 2007…

Abu Sneineh conta: “Os palestinianos de Gaza sentiram-se ‘humilhados’ pela forma como a ajuda foi entregue, depois de semanas de bombardeamentos israelitas“, disse um deles ao correspondente em Gaza do jornal Al-Akhbar. Ibrahim, um residente do campo de refugiados de Jabaliya, disse ao Al-Akhbar: “Corri cinco quilómetros [até à costa], mas não consegui nada. As pessoas lutavam por um saco de tâmaras ou um quilo de arroz.

A agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos, UNRWA, comentou: “Gaza tornou-se um inferno na terra. Quando é que o mundo vai dizer basta?

Foi neste contexto dramático que se desenrolou “uma tragédia dentro de uma tragédia” no dia 1 de Março. A organização americana Jewish Voices for Peace reagiu nesse mesmo dia através de um comunicado de imprensa, do qual publicamos os principais extractos.

Esta manhã, quando centenas de palestinianos esfomeados faziam fila para receber ajuda humanitária, incluindo farinha para pão, o exército israelita abriu fogo, matando mais de 100 palestinianos e ferindo mais de 700. Massacraram pessoas que apenas procuravam pão para alimentar as famílias. (…) Ontem, a ONG MedicalAidPal anunciou que as crianças em Gaza estão a morrer à fome ao ritmo mais rápido alguma vez registado. É este o rosto de um genocídio.

Estes são os mesmos instrumentos de fome organizada e de massacre em massa que foram utilizados em genocídios passados, e que nós, como judeus, sabemos que foram utilizados pela Alemanha nazi no Holocausto. Muitos de nós crescemos com imagens de pessoas famintas, com rostos emaciados, em guetos e campos de concentração. As imagens que chegam hoje de Gaza têm um eco retumbante.

Não desviaremos o olhar e não ficaremos em silêncio. Conhecemos o papel do nosso governo ao permitir activamente que o governo israelita perpetre genocídio contra os palestinianos, enviando milhares de milhões de dólares em ajuda militar incondicional e armas letais, e bloqueando os apelos da comunidade internacional a um cessar-fogo permanente. (…) ‘Nunca mais’ é agora.

* Site americano de notícias sobre o Médio Oriente.

Traduzido e adaptado de Dominique Ferré, La Tribune des travailleurs, nº430