Argentina: Milei suspende a agência noticiosa estatal Télam e põe trabalhadores em layoff

O governo do presidente Javier Milei suspendeu na segunda-feira (4 de Março) o funcionamento da agência noticiosa Télam, dando início ao esforço da sua administração para encerrar esta agência estatal. O presidente anunciara, em discurso ao Congresso, na sexta-feira passada, que iria fechar a Télam, que descreveu como porta-voz da “propaganda” dos anteriores governos kirchneristas – referindo-se à corrente política da ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner e do seu falecido marido, o ex-presidente Néstor Kirchner.

A organização noticiosa, com 79 anos e mais de 700 funcionários, é a mais recente vítima da iniciativa do chefe da extrema-direita de abalar e encerrar instituições estatais desde que assumiu o cargo em Dezembro.

Na segunda-feira de manhã, os jornalistas foram impedidos de entrar nas instalações da Télam. Durante a noite, o local tinha sido vedado e a polícia barrava as portas. O site da agência também foi retirado do ar, substituído pela mensagem: “página em reconstrução“.

O porta-voz da Presidência, Manuel Adorni, disse na sua conferência de imprensa diária na segunda-feira que o governo havia emitido um comunicado interno “a todos os funcionários, dispensando-os de prestar serviços por sete dias, com remuneração, enquanto se avança” para fechar a agência.

Actualmente, a Télam publica diariamente mais de 500 artigos de informação nacional e 200 fotografias, bem como conteúdos para clientes de vídeo e rádio.

De acordo com o seu site, a agência de notícias estatal “é a única no país com uma rede de correspondentes em todas as principais cidades e províncias do país“.

Numa declaração no X (antigo Twitter), um grupo de funcionários que se identificam como ‘Somos Télam‘ descreveu o encerramento da agência como “um dos piores ataques à liberdade de expressão nos últimos 40 anos de democracia“.

A agência desempenha um papel democrático – não são apenas os empregos de 770 famílias que são afectados, mas também o direito à informação“, argumenta Tomás Eliaschev, jornalista e delegado sindical na agência estatal. Acrecentou que os trabalhadores estão a avaliar “todas as medidas políticas, sindicais e legais” possíveis para reverter a decisão.

A Télam já passara por um encolhimento traumático dos efectivos em 2018, durante o governo do ex-presidente Mauricio Macri, com o despedimento de 357 trabalhadores, alguns dos quais posteriormente reintegrados por ordem judicial.

O Sindicato de Imprensa de Buenos Aires, SiPreBA, divulgou um comunicado dizendo que seus membros se reuniriam num dos edifícios da Télam para um “abraço simbólico” em protesto contra o fecho.

Por volta do meio-dia, centenas de pessoas protestavam contra o encerramento frente aos escritórios principais da agência no centro de Buenos Aires.

O encerramento da Télam insere-se nos objectivos do governo Milei de desregulamentação e privatização: destruição metódica da legislação laboral; privatização de todas as empresas públicas; venda dos recursos naturais às multinacionais, etc. Desempenha, também, um importante papel na “facilitação” deste processo pelo controlo da comunicação social, atacando a liberdade de imprensa.

É imperioso que a classe trabalhadora se una em prol dos seus próprios interesses para travar Milei.