Carnificina em Rafah

COM A CUMPLICIDADE CONTINUADA DAS GRANDES POTÊNCIAS

Foto: Em Rafah depois do bombardeamento de 26 de Maio

Correu mal, tragicamente”, ousou declarar Netanyahu depois de mais uma matança em Rafah. Até a imprensa tradicionalmente pró-israelita foi obrigada a reconhecer “um horror a mais”, como escreveu a revista francesa L’Express a 28 de Maio: “Colunas de chamas, crianças queimadas vivas e mulheres a agonizar no chão. No dia 26 de Maio, uma nova visão do inferno irrompeu das entranhas da Faixa de Gaza, onde vários mísseis israelitas semearam a morte num campo de refugiados. Dezenas de vítimas, naquilo que Benjamin Netanyahu descreveu como um “incidente trágico”. Mas, por cada “incidente trágico” filmado e difundido por todo o mundo, quantos outrosficam por ver, nesta ilha sitiada?” Estes ataques, acrescenta a revista, “ilustram o cinismo e a crueldade do Governo de Netanyahu, que em breve será processado por crimes contra a humanidade”.

Taghreed Al-Astal, uma mãe de 53 anos que sobreviveu milagrosamente ao bombardeamento, declarou ao meio de comunicação americano Mondoweiss (27 de Maio): “A minha filha mais velha estava fora da tenda quando o bombardeamento começou.  Veio a correr em pânico e perguntou-me: ‘Mãe, ainda estou viva?‘“

Nada “correu mal” neste crime. Há sete meses que o exército israelita tem ordens para eliminar sistematicamente todos os membros, reais ou supostos, do Hamas, sejam quais forem as consequências para a população circundante. Vincent Lemire, um professor da Universidade Gustave Eiffel, recordou-o no canal de rádio France Inter (28 de Maio): “Não foi acidente, porque foi um disparo deliberado, como o próprio Netanyahu admitiu, que visava dois terroristas do Hamas, cuja existência praticamente só se ficou a conhecer nesse momento exacto, não era gente muito conhecida; mas fizeram pontaria sobre eles. Não foi um erro de tiro, nem falta de pontaria. Deu-se de barato matar dezenas de mulheres e crianças para atirar sobre dois membros do Hamas.”

No início de Abril, o meio de comunicação social israelita judaico-árabe +972 e o site de língua hebraica Local Call publicaram uma investigação que revelou a existência de um programa de inteligência artificial gerido pelo exército israelita chamado “Lavender”, concebido para identificar potenciais alvos de assassinato (com uma margem de erro de cerca de 10%!). A utilização do programa de eliminação “Lavender”, tal como o cinicamente chamado “Where’s Daddy?”, (Que é do papá?), levou ao assassínio de “milhares de palestinianos, muitos deles não combatentes”, pois, como recorda o diário libanês L’Orient-Le Jour (4 de Abril), “o exército autorizou baixas civis significativas para efectuar assassinatos selectivos, permitindo, designadamente, matar até quinze ou vinte civis por cada agente subalterno do Hamas assinalado peloLavender”. A carnificina em Rafah é apenas a última de uma política seguida deliberadamente há sete meses. Uma só conclusão: corte imediato de todas as relações diplomáticas, militares e comerciais com o Estado de Israel!

Traduzido e adaptado do nº 442 de La Tribune des travailleurs, 29 de Maio de 2024