União Europeia e Democracia: “Eleições não mudam nada”

Quando das eleições gregas que levaram o Syriza ao poder, no início de 2015, dois dirigentes importantes da União Europeia fizeram declarações que causaram alguma celeuma.

Wolfgang Schäuble, ministro das finanças alemão, personagem fundamental do “eurogrupo” de ministros das finanças da UE, reagiu secamente:

Eleições não mudam nada. Há regras.1

Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, disse na mesma ocasião:

Não pode haver escolha democrática contra os tratados europeus…2.

Espíritos mais precipitados exclamarão: cínicos!

Cínicos? Talvez sejam cínicos. Mas não foi por isso que disseram o que disseram.

Schäuble e Juncker são políticos democratas-cristãos com provas dadas em cada um dos países respectivos. Tais afirmações não lhes passariam pela cabeça “em casa”.

Porém, como políticos e juristas conscienciosos que, conscienciosamente, exercem funções decorrentes dos tratados europeus, eles limitam-se a declarar o que é óbvio:

Uma vez nas malhas dos tratados europeus, os povos das nações neles comprometidas podem votar como quiserem. A política, essa, não pode mudar, porque está nos tratados. É a concorrência “livre e sem entraves”. Quer o povo queira, quer não queira. Grego, português, alemão ou luxemburguês.

Como aqui temos dito e repetido: União Europeia ou democracia. As duas, não dá. ♦

Notas

1 Ver, por exemplo, página web da BBC: http://www.bbc.com/news/world-europe-31082656.

2 Ver, por exemplo, página web do jornal francês Figaro: http://www.lefigaro.fr/vox/politique/2015/02/02/31001-20150202ARTFIG00405-du-traite-constitutionnel-a-syriza-l-europe-contre-les-peuples.php.