E quando será a vez da luta unida de todos os trabalhadores?

Na rubrica Correio da Educação, do jornal Correio da Manhã, de 30 de Maio de 2017, sob o título «Tempo de luta», o dirigente da FENPROF, Mário Nogueira, escreve:

«A greve dos trabalhadores da Administração Pública (AP), de 26 de Maio, teve grande adesão. Não surpreendeu, pois já antes, médicos, enfermeiros e administração local tinham lutado forte. É que, após anos de sacrifícios, perdendo direitos, salário, condições e postos de trabalho, a AP continua a sentir os efeitos de uma austeridade que tarda em acabar. Um exemplo: o valor bruto dos salários foi reposto, porém, o que se recebe em cada mês é inferior ao que se recebia há 7 anos.

Os professores reviam-se em vários dos objectivos da greve de 26 (descongelar carreiras; actualizar salários; combater a precariedade ou rejeitar a municipalização) pelo que a sua não participação não se deveu a qualquer desacordo com estes ou com a oportunidade da luta. Deveu-se, sim, ao facto de, para além desses, os professores terem outros que colocam no topo das suas prioridades, tais como a aprovação de um regime especial de aposentação, a reorganização dos horários de trabalho, a definição clara do que é lectivo e não lectivo ou a gestão democrática das escolas. Desde o início do ano que o ME adia respostas a estas justas reivindicações, não assumindo o compromisso que lhe foi proposto. A manter-se o vazio, em Junho, será a vez dos professores».

Mário Nogueira reconhece que se justifica a luta forte dos trabalhadores da administração local, dos enfermeiros, dos médicos e dos trabalhadores da Administração Pública, pelo facto de, «após anos de sacrifícios, perdendo direitos, salário, condições e postos de trabalho», continuarem «a sentir os efeitos de uma austeridade que tarda em acabar».

Como disse o dirigente sindical da Federação Nacional dos Médicos, Mário Jorge Neves, justificando a oportunidade da greve dos médicos de 10 e 11 de maio de 2017, «o Governo até pode ter mudado mas a política não».

E porque não mudou? Não será pelo facto de as direcções do PS, do PCP e do BE, em maioria na Assembleia da República, terem aprovado o Orçamento de Estado homologado pela União Europeia por viabilizar a continuação dos ataques destruidores dos direitos dos trabalhadores?

Então é legítimo perguntar:

Se os professores reviam-se em vários dos objectivos da greve de 26 de Maio porque é que as direcções dos respectivos sindicatos não apelaram à sua greve conjunta com os restantes trabalhadores dos serviços públicos?

Será que a especificidade de algumas das suas reivindicações poderá servir de justificação para a recusa das direcções dos seus sindicatos apelarem à greve conjunta dos professores e de todos os trabalhadores dos serviços públicos?

Será possível aceitar que um dirigente sindical com as responsabilidades de Mário Nogueira escreva que «os professores reviam-se em vários dos objectivos da greve de 26 (descongelar carreiras; actualizar salários; combater a precariedade ou rejeitar a municipalização) pelo que a sua não participação não se deveu a qualquer desacordo com estes ou com a oportunidade da luta», e depois responsabilize os professores por não se juntarem à greve dos trabalhadores da Administração Pública pelo «facto de, para além desses, os professores «terem outros que colocam no topo das suas prioridades, tais como a aprovação de um regime especial de aposentação, a reorganização dos horários de trabalho, a definição clara do que é lectivo e não lectivo ou a gestão democrática das escolas»? Mesmo que essas prioridades pudessem estar na origem da não realização da greve do dia 26 de Maio pelos professores, como defende Mário Nogueira, não caberá às direcções dos sindicatos fazer prevalecer os interesses do conjunto dos trabalhadores sobre os seus alegados interesses específicos? A experiência não ensina que a mobilização isolada por grupo profissional não é capaz de derrotar os ataques aos direitos e conquistas dos trabalhadores?

Não será o momento de respeitar a vontade da esmagadora maioria dos trabalhadores, que derrotou o governo Passos-Portas para mudar de política, a fim de poder deixar de sentir os efeitos de uma austeridade que tarda em acabar?

Não será o momento de as direcções dos sindicatos e das centrais sindicais deixarem de convocar paralisações isoladas em cada sector laboral e promoverem a mobilização unida do conjunto dos trabalhadores em defesa dos seus direitos?

6 de Junho de 2017

Alexandre Ulisses