Eleições Britânicas: um Voto de Classe

Por François Forgue. Artigo publicado em La Tribune des Travailleurs (14 de Junho)

Quanto às eleições legislativas na Grã-Bretanha, tudo estava dito e redito. O Partido Conservador dirigido por Theresa May ia vencer por larga margem; o Labour Party ia ser esmagado, vítima da sua confusão, da sua recusa em apoiar a vontade de milhões de membros e eleitores que queriam acabar com o espartilho da União Europeia.

Há um ano, quando do referendo de 23 de Junho de 2016, as previsões eram idênticas: os eleitores britânicos não iam resistir à exigência manifestada pela direcção do Partido Conservador, pela direcção dos sindicatos, pelos dirigentes do Labour Party — dos partidários de Tony Blair a Corbyn — , pelo presidente Obama e por outros mais que os mandavam ficar na União Europeia.

Sabe-se qual foi o resultado: os votos dos trabalhadores, especialmente nas regiões industriais, levaram à vitória do voto “leave” e a uma crise que está longe de ter ficado resolvida.

O mesmo aconteceu nas eleições legislativas que acabam de se desenrolar.

O Partido Conservador não só perde 13 assentos, ficando com 318 deputados no Parlamento, como o Partido Trabalhista ganha 32 novos círculos eleitorais para as eleições anteriores, e Theresa May fica sem maioria absoluta no Parlamento.

Uma vez mais, quem malogrou os planos do patronato britânico e do Partido Conservador foram os trabalhadores. Foram eles que se mobilizaram, em massa, com a juventude, para infligir esta desfeita a Theresa May e ao seu governo.

Pronunciaram-se contra a continuação das políticas de austeridade cada vez mais desastrosas que eram, há anos, o preço a pagar para pertencer à União Europeia; pronunciaram-se contra deixar as mãos livres a Theresa May e ao seu governo para negociar a saída da Grã-Bretanha da União Europeia, mantendo todas as obrigações anti-operárias que os tratados da União Europeia encerram.

Fizeram-no votando no Partido Trabalhista, cuja plataforma eleitoral integrara algumas reivindicações que correspondiam a aspirações fundamentais da classe operária britânica, a razão por que o eleitorado operário se pronunciara pela saída da União Europeia em Junho de 2016, apesar dos obstáculos.

Esta plataforma incluía a exigência de renacionalizar os caminhos-de-ferro — questão que nem sequer se poderia ter posto no quadro da União Europeia — , de salvar o Serviço Nacional de Saúde injectando novas verbas no sector, de aumentar o salário horário mínimo de 8,5 para 11,5 euros, a oposição aos contratos de “zero horas” — tudo medidas contraditórias com as exigências de “equilíbrio orçamental” da União Europeia.

Os trabalhadores britânicos puseram em xeque o governo conservador. Afirmaram, desse modo, que as suas organizações (os sindicatos, reunidos no TUC, a respectiva confederação, e o Partido Trabalhista, saído dos sindicatos como representação política da classe operária) não têm que ser auxiliares das instituições da União Europeia e do grande capital financeiro, mas sim instrumentos necessários à luta da classe operária pelas suas reivindicações e pela sua emancipação.

Infligiram, assim, uma derrota aos capitalistas britânicos e contribuíram para dar mais força à luta de todos os trabalhadores da Europa.

Afirmaram claramente a sua vontade de ser o Partido Trabalhista a governar, a fim de dar realidade plena ao conteúdo social da sua votação de 23 de Junho pelo Brexit, rompendo efectivamente com a União Europeia e a NATO e as suas empresas de guerra.