A Guerra de Trump e a Morte do Soldado Português no Mali

O sargento-ajudante Paiva Benido, morto no Mali, em missão da Nato/U.E./França, é o vigésimo militar a morrer em missões exteriores de forças portuguesas desde 1992.1

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, assegurou (Público, 19/6/17), no Luxemburgo, que o compromisso de Portugal com a missão da UE no Mali “continua a ser total”, apesar da morte do sargento do Exército português.

Quanto à NATO, neste ano de 2017, será reforçada a participação em operações no Mediterrâneo, Lituânia e Roménia. Recorde-se que, no final de 2016, começou a missão de monitorização do processo de paz na Colômbia sob a bandeira da ONU e que este ano prosseguem as missões no Afeganistão, Somália, Iraque, Mali, RCA, Mediterrâneo e Índico (ver infografia).2

Em Abril de 2017 acabou a presença de 200 efectivos das Forças Armadas no Kosovo, em missão da NATO, naquela que foi uma das mais longas missões militares portuguesas no exterior, iniciada em 1999. O orçamento para as Forças Nacionais Destacadas (FND) em 2017 cresce 1,5 milhões de euros — para 58 milhões — face a 2016.

Para o ministro da Defesa, importa que esse orçamento “respeite regras operacionais” na esfera do CEMGFA e as “orientações estratégicas” de política externa “que correspondem à realização do interesse público geral”. Ou seja, o interesse geral, para o povo português, são as guerras da Nato/U.E./ONU? Tal como o PS, o PSD e o CDS sempre apoiaram a participação das tropas portuguesas “nos teatros de guerra internacionais” (ver infografia) e vêm chorar “lágrimas de crocodilo” pela morte do soldado português no Mali, cuja responsabilidade é das políticas de guerra que, de forma submissa às orientações da Nato/U.E./ONU, impõem ao povo português!?

Acontece que os jornais não noticiaram as posições nem do BE, nem do PCP, relativamente à morte do soldado português no Mali, nem vimos que estes partidos se pronunciassem pela retirada dos militares portugueses dos vários teatros de guerra no mundo.

Vimos, sim, um deputado do BE, João Vasconcelos, a anunciar-se orador convidado de uma conferência “contra a guerra e a exploração”, em Argel, e a dar uma entrevista anti-guerra a um jornal francês. Só que: votou o orçamento, incluindo as dotações para os destacamentos militares! E não se lhe conhece actividade, na comissão da defesa da Assembleia da República — de que é vice-presidente! — a exigir a retirada das tropas portuguesas das guerras imperialistas em que colaboram.

Será que a submissão do PCP e do BE ao governo Costa/U.E. leva estes partidos a perderem a sua identidade, pelo menos a que afirmavam ter: contra a Nato, pela paz? Não são as guerras que os EUA desenvolveram e que Trump continua as guerras que a Nato e a U.E. desenvolvem, na Síria, no Afeganistão, em África, com a participação dos soldados portugueses? Porque é que não promovem manifestações a exigir a saída de Portugal da Nato, o regresso dos soldados portugueses das várias guerras contra os povos no mundo?

Mais uma vez repetimos: ontem como hoje, não aceitamos que tais guerras sejam feitas em nome do povo português!

JSH

1 http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2017-06-19-Militar-morto-no-Mali-e-20.-baixa-em-missoes-no-estrangeiro-desde-1992

2 http://www.dn.pt/portugal/interior/forcas-armadas-espalhadas-pelo-mundo-a-apoiar-onu-nato-e-ue-5580001.html