Massacre na Palestina

Declaração do Comité de Organização pela Reconstituição da IVª Internacional (CORQI)

Dezasseis palestinianos mortos, mais de 1.400 feridos, muitos dos quais atingidos nas costas, quando se manifestavam pacificamente, participando na “Grande Marcha do Regresso” convocada por ocasião do Dia da Terra. É o balanço do banho de sangue de 30 de Março de 2018. O Comité de Organização pela Reconstituição da IVª Internacional (CORQI) e as organizações nele filiadas participam da indignação dos trabalhadores e dos povos do mundo inteiro ante o massacre perpetrado pelo Exército israelita e aplaudido pelo seu comanditário Netanyahu. O CORQI e as organizações nele filiadas participarão em todas as concentrações e iniciativas pelo fim imediato do massacre do povo palestiniano e saúdam os militantes árabes e judeus que, dentro do próprio Estado sionista, denunciaram conjuntamente este massacre.

O CORQI e as organizações nele filiadas condenam a cumplicidade activa das “grandes potências”, a começar pela administração Trump, cujo enviado especial na região, Jason D. Greenblatt, deu o sinal verde a Netanyahu algumas horas antes do massacre. O CORQI e as organizações nele filiadas condenam a cumplicidade daqueles que, da ONU à União Europeia, passando por Macron, Merkel, May e tantos outros, ousam pedir “contenção” ao carniceiro Netanyahu ou um “inquérito independente”. Como se fosse necessário um “inquérito” para apurar quem assassinou e quem foram as vítimas!

Desta cumplicidade participam todos os regimes árabes reaccionários. Os que ontem se apresentavam fraudulentamente como “amigos dos palestinianos”, agora já nem se dão ao trabalho de afivelar a máscara. Um deles, o príncipe herdeiro da monarquia saudita, Ben Salman, acaba de ousar declarar que “os israelitas têm o direito à sua própria terra“. (…) Israel é uma grande economia (…) e, claro, há muitos interesses que temos em comum“(2 de abril, The Atlantic), ao apelar a uma acção conjunta contra o Irão sob a égide de Trump.

Todos aqueles que invocam o “direito internacional” como saída para os massacres sabem perfeitamente que, na era do imperialismo, “o direito internacional” é o direito do mais forte e que o povo palestiniano tem sido sempre sua vítima, há mais de setenta anos. Em novembro de 1947, foi celebrado no âmbito das Nações Unidas o acordo contra-revolucionário de partição da Palestina (Resolução Nº 181) entre o imperialismo e a burocracia da URSS. Partição que é a origem da ininterrupta opressão sobre o povo palestiniano, expulso das suas terras e atirado aos massacres e à discriminação. Partição, que é, igualmente, uma armadilha para as populações judaicas que emigraram para a Palestina, ao encerrá-las num estado-miniatura, opressor subsidiário do imperialismo americano e sustentado unicamente pelas subvenções deste.

Dezenas de milhares de habitantes de Gaza têm participado, desde o dia 30 de Março, na “Grande Marcha do Regresso”, indicando que, apesar do atroz massacre que acaba de ser perpetrado, os 750.000 refugiados e os seus milhões de descendentes ainda amontoados nos campos da UNRWA que Trump decidiu matar à fome nunca desistiram do seu direito ao regresso, direito democrático reconhecido a todos os povos da terra excepto ao povo palestiniano. Há mais de 70 anos, apesar da Nakba de 1948 e das expulsões, apesar dos massacres e dos pretensos “acordos de paz” que, de Camp David a Oslo, apenas têm servido para desfazer a Palestina, apesar do bloqueio assassino de Gaza, em vigor desde 2007, o povo palestiniano nunca renunciou ao seu direito a dispor de si mesmo.

O CORQI e as organizações nele filiadas reafirmam a continuidade das posições da IVª Internacional desde 1947: é ao povo palestiniano e só a ele que compete poder finalmente decidir livremente o seu destino, elegendo uma assembleia constituinte. O povo palestiniano poderá, desse modo, desfazer-se livremente da partição e da opressão e avançar para a constituição de uma nação palestiniana com direitos iguais para as suas componentes árabe e judaica, num único Estado laico e democrático do mar até ao Jordão.

3 de abril de 2018