Andrés Manuel López Obrador presidente: bateu o regime um tsunami de 32 milhõesde votos
· É necessário organizarmo-nose intervirmos activamente para impor o mandato do 1º de julho,
·Construamos Comités Unitários para impor as reivindicações do povo trabalhador.
Declaração dos militantes mexicanos do Comité de Organização pela Reconstituição da IVª Internacional (CORQI)
Andrés Manuel López Obrador [AMLO, como é conhecido] obteve mais de 53% dos votos, causando uma hecatombe no caduco regime do PRI. López Obrador foi imposto por mais de 32 milhões de votos e, segundo os resultados do escrutínio preliminar, a coligação “Juntos Faremos História”, encabeçada pelo MORENA, obteve a maioria nas câmaras de deputados e senadores.
O PAN e o PRI sofreram uma derrota histórica. Mesmo nos seus bastiões eleitorais, foram varridos por uma onda de saturação com a corrupção, a impunidade, a violência e, principalmente, a política levada a cabo durante mais de 30 anos, favorecedora da pilhagem, da perda de direitos e das riquezas, das empresas públicas, de subordinação aos tratados comerciais e organismos financeiros internacionais, em resumo: a perda da soberania nacional.
Os resultados não deixam mentir: em estados tradicionalmente “priistas” como o Estado do México, Yucatán, Veracruz e Oaxaca, eles perderam por quase 30 pontos; a votação nos estados “panistas”, especialmente no Norte, registou uma proporção de quase 3 para 1. Exemplos disso são a Baixa Califórnia, onde o PAN perdeu os oito distritos e o lugar no senado, e Sonora, onde só ganhou um em vinte e sete distritos. O resto dos partidos do regime está entre a vida e a morte, roçando o limite da perda do registo, casos do PANAL, do Verde, do Movimiento Ciudadano e até do próprio Encuentro Social (partido ultraconservador que se pendurou a López Obrador, não recebendo o volume de votos necessário).
O PRD, apesar do voto corporativo, perdeu a Cidade do México, Tabasco, Morelos… ficando em quinta força política do país, é a sua falência que se regista no meio de um processo de profunda decomposição. A estes dados há que acrescentar que a taxa de participação foi a mais alta da história recente do país, com aproximadamente 70% de votantes.
O pronto reconhecimento do triunfo de AMLO por parte do PRI, PAN e governos imperialistas ficou-se a dever ao medo de detonar um processo revolucionário no país (reflectido na frase que se tornou popular: “soltar o tigre”), que teria eclodido se se quisesse impor uma nova fraude. Ainda assim, a jornada eleitoral não esteve livre de violências, transporte de eleitores, compra de votos — só que este tsunami era impossível de parar, e a maquinaria do PRI-PAN não chegou.
O triunfo de AMLO modifica, do mesmo passo, o panorama em toda a região. Os governos dos países sul-americanos, como a Venezuela e a Bolívia, saudaram favoravelmente os resultados, e López Obrador prometeu que a política externa da nação mudaria e se basearia nos princípios do respeito pela soberania dos povos e da não ingerência.
Mesmo assim, os de cima, “ a mafia do poder” e, por trás deles, o imperialismo farão todos os possíveis por travar esta onda. O pronto reconhecimento e comunicação de Trump com AMLO fez-se para atar as mãos ao próximo governo. O próprio AMLO teve, no seu discurso, de dar sinais para tranquilizar “os mercados”, prometendo garantias de respeitar os “compromissos adquiridos”, que haveria “liberdade para os empresários”, dizendo que não haveria “expropriações nem confiscações” e que “tudo seria conduzido pelas vias legais”, “chegando, inclusive, aos tribunais internacionais”.
Qual o significado do voto massivo?
A responsabilidade de López Obrador e da sua organização política é agora enorme; o povo do México, especialmente os jovens e as mulheres (cujos votos foram maioritários por AMLO) e os trabalhadores do campo e da cidade deram-lhe um mandato: acabar com este modelo económico de subordinação ao grande capital e aos organismos financeiros internacionais.
É incontestável que a maioria do povo e a nação disseram: Fim ao saque imperialista! O povo e a nação disseram que as contra-reformas devem ser revogadas, especialmente a reforma energética, educativa e laboral. Foi isto que se manifestou profundamente através do voto.
A força dos sectores populares ficou, ainda por cima, indubitavelmente demonstrada num terreno que lhes é desfavorável: o das eleições burguesas. Mostrando o peso que têm na sociedade, ainda passados poucos dias da jornada eleitoral os trabalhadores permanecem preocupados e na expectativa dos passos que López Obrador e o próximo governo darão. Porém, como trabalhadores, não podemos ficar à espera que as coisas mudem por magia; a verdadeira democracia implica a participação de todos na condução e tomada de decisões, não acaba ao entregar um boletim de voto. Hoje, mais do que nunca, será necessária a mobilização das massas para impor ao governo, à oligarquia, à “mafia”, as mudanças que a nação reclama.
Quem, senão os trabalhadores, a sua juventude e as mulheres poderão organizar a luta para recuperar a nossa electricidade, o nosso petróleo, a nossa água? Podemos esperar que os políticos burgueses que apoiaram de maneira oportunista AMLO impulsionem essas mudanças? Ao obter a maioria no congresso, não pode haver pretextos de nenhum tipo para não começar logo no primeiro dia a desmantelar este regime; actuar de outra maneira seria voltar costas à vontade popular e à democracia.
Sabemos que a profunda mudança a que aspiram o povo e a nação não se poderá dar de um dia para o outro. Dizemos, porém, o seguinte: há reivindicações imediatas que têm de ser cumpridas, se deveras se quer esta Transformação da República. O primeiro passo a dar é recuperar as nossas riquezas, pilares para o desenvolvimento de uma nação independente, e a primeira reivindicação a cumprir tem de ser a recuperação (repossessão-nacionalização-expropriação) da PEMEX, da CFE, das minas, da água (bacias lacustres), o que passa por anular os contratos assinados pelos últimos governos para favorecer a sua privatização. Outro passo necessário é a revogação das contra-reformas, a do ensino e a da legislação laboral.
Estas medidas constituiriam um passo em frente na defesa do povo e da nação — um passo importante de ruptura com o imperialismo americano, com a administração de Trump e com o NAFTA.
Estamos seguros de que, ao tomar estas medidas, a maioria do povo do México as apoiará, tal como sucedeu em 1938 quando se deu a expropriação do petróleo.
Hoje, mais do que nunca, é necessária a independência de classe
A democracia, para ser tal, implica reconhecer os interesses opostos na sociedade, reconhecer, portanto, a luta de classes, o direito dos trabalhadores a organizarem-se colectiva e politicamente na procura dos seus interesses.
Nós, trabalhadores, não podemos cair na ilusão de que se pode governar para todos, sem prejuízo para os de baixo. Para impor a mudança, é necessária estarmos organizados e termos claramente identificado quem são os nossos adversários e quem os nossos aliados.
Como mencionámos mais acima, o imperialismo e seus sequazes no nosso país farão todos os possíveis por impedir o mínimo avanço; por isso precisamos de estar organizados e mobilizados. Como admitiu López Obrador no seu discurso no Zócalo, este resultado eleitoral é consequência da mobilização popular que desde há décadas se tem desenvolvido no país: dos movimentos contra o autoritarismo e pela democracia, das mobilizações contra as privatizações da saúde, da educação, da electricidade, do petróleo, das greves por melhores condições de trabalho e de salário, dos movimentos contra as fraudes de 1988 e 2006, das lutas contra os desaparecimentos forçados e os feminicídios, pela terra, pela democracia sindical, etc.
A chave para lograr a transformação é não deixarmos de nos mobilizarmos de maneira independente, sem cair em ilusões, confiando em que a força das massas e a sua organização é a maior ferramenta para a mudança. López Obrador chegou ao governo, é bem certo, o regime levou um golpe, mas isso não significa que o povo do México tenha o poder em mãos.
Para consegui-lo, é necessário aproveitar esta conjuntura histórica, este golpe profundo que o regime sofreu, para formar as nossas organizações de classe, sindicatos independentes e democráticos, e o mais importante, um Partido dos Trabalhadores, que reflicta claramente os nossos interesses e participe como protagonista na Transformação da República.
Como avançar com o mandato do 1º de julho?
Enquanto CORCI México, consideramos indispensável não dissolver este gigantesco tsunami que se manifestou pela via eleitoral; é necessário canalizar a sua força para a organização, activa e interventiva. Por isso, propomos ao povo do México a criação de Comités Unitários Pelo Respeito do Mandato do 1º de julho.
Comités Unitários, germes de organização, que podem tomar diversas formas de organização ou nomes, para, no essencial, discutir e articular democraticamente as formas para avançar com a realização do mandato do 1º de julho, no que o primeiro passo, consideramos nós, é a recuperação das nossas riquezas naturais.
Comités Unitários onde se possa integrar qualquer mexicano, independentemente da sua filiação política ou religiosa, para intervir em comum num quadro unitário.
Comités Unitários que recolham as reivindicações dos povos, das comunidades, dos jovens, estudantes, indígenas, mulheres e trabalhadores e exijam o seu cumprimento.
Comités Unitários que façam face à oligarquia e ao imperialismo, organizem o povo para conseguir derrubar as contra-reformas e recuperar a nossa riqueza, a defesa da nossa soberania.
Comités Unitários que sejam o germe de uma força social de massas que imponha os interesses da nação, apoiando todas as medidas progressistas que sirvam para cumprir o mandato do 1º de julho: resgatar a nossa soberania e os nossos direitos.
Junta-te ao CORQI, para lutar por um governo dos trabalhadores
Manifestamos que nós, militantes mexicanos do CORQI, não apelámos a votar López Obrador, ao vermos que, na sua plataforma de campanha e programa, redigidos por empresários, não se recolhiam claramente as reivindicações por que os trabalhadores da nossa nação têm lutado, representando um recuo das posições que ele defendera no passado. Compreendemos, contudo, que os milhões que iam votar nele o fariam num anseio de mudança que ultrapassava o próprio programa eleitoral da coligação.
Por isso, antes da jornada eleitoral, através de uma carta a López Obrador assinada por centenas de trabalhadores e jovens, apelámos à formação de Comités de Defesa da Vontade Popular e da Democracia.
Em igualdade de condições com militantes do MORENA, simpatizantes e votantes de AMLO, participámos na defesa da votação e pusemos as nossas modestas forças ao serviço da derrota do sistema PRI-PAN.
Na Carta a López Obrador, propusemos uma plataforma de recuperação dos direitos e da soberania, sendo necessário apostar pelo protagonismo das massas, pela sua organização política e sindical independente, propusemos a convocação de um Congresso Constituinte e Soberano que varra as leis antinacionais, anti-operárias e antipopulares. Mantemos firmemente esta posição, mas estamos dispostos a trabalhar, sem condições prévias, ombro a ombro com quem esteja disposto a dar passos em frente na organização e na luta.
Estamos dispostos a acompanhar e apoiar todas as acções que avancem para a revogação das contra-reformas, a recuperação dos nossos direitos, recursos e soberania. Sem deixarmos, porém, de ter consciência de que a verdadeira transformação só se conseguirá com um governo dos trabalhadores; por isso, pomos mãos à obra na construção da Nova Central dos Trabalhadores, como instrumento sindical democrático e de luta da nossa classe, e por um verdadeiro Partido dos Trabalhadores, cujo germe nos parece actualmente estar na Organização Política do Povo e dos Trabalhadores (OPT), em que participamos.
Convidamos os trabalhadores e jovens a discutirem o nosso programa, as nossas propostas e a juntarem-se ao CORCI México. O nosso país viverá uma nova etapa e, nela, nós, trabalhadores temos que ser os protagonistas, porque estamos convencidos de que “a emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores”.