EUA – Milhões exigem nas ruas fim do terror policial e do racismo sistémico

(The Weekly Organizer Newsletter – nº 1, 17 de Junho de 2020)

Protestos de rua maciços de milhões de jovens explodiram em todas as principais cidades dos EUA contra o assassinato de George Floyd pela polícia. Os protestos não se limitam, no entanto, a essa tragédia, nem mesmo às inúmeras outras vidas perdidas por assassinato policial — desafiam, sim, as próprias instituições políticas, racistas, do país.

Os manifestantes exigem que se derrubem as estátuas de chefes confederados1 e mudem os nomes das bases militares com nomes de confederados. Trump opõe-se, e não admira. Alega que fazem parte da história dos EUA — e, neste ponto específico, tem razão. Na raiz da história moderna dos Estados Unidos está a aliança entre a classe capitalista do Norte e a antiga escravocracia do Sul. Depois da Guerra Civil, essas forças juntaram-se não só contra os escravos negros libertos, mas também contra a unidade entre os trabalhadores pobres negros e brancos forjada durante a Reconstrução Radical2.

Para consolidar aquela aliança contra-revolucionária, foi necessário aos capitalistas do Norte negociar um “pacto” com o seus aliados do Sul, concedendo-lhes maior autonomia e permitindo-lhes impor a segregação, adoptar a hedionda legislação “Jim Crow” e activar o Ku Klux Klan, que linchou milhares de negros que ousaram rebelar-se contra “Jim Crow”.

Derrotar esse “pacto” entre os capitalistas do Norte e os escravocratas — uma tarefa democrática ainda inacabada, apesar dos ganhos do Movimento dos Direitos Civis — implica extirpar pela raiz, de uma vez por todas, o racismo institucionalizado.

O racismo está no cerne da dominação capitalista e imperialista

Por cada dia que esta luta continua, a classe dominante dá-se conta de que os protestos contra o racismo têm potencial para chegar ainda mais longe e de que o que está em jogo não é apenas acabar com o assédio e os assassinatos policiais, mas a própria estabilidade das instituições que estão no cerne da dominação capitalista e imperialista, dentro e fora de portas.

Desde o início que o domínio capitalista nos Estados Unidos usou o racismo institucional para virar os trabalhadores brancos contra a classe trabalhadora negra. Induzem-se os trabalhadores brancos a sentirem-se ameaçados sempre que os trabalhadores negros obtêm algum ganho. Agora, ao encerrar fábricas por toda a “cintura da ferrugem” e despedir milhões de trabalhadores, o sistema capitalista em decadência começou a fazer pontaria aos ganhos da classe trabalhadora qualificada branca. Mais uma vez, maneja-se o racismo institucionalizado, usando argumentos fraudulentos para fazer dos trabalhadores negros (rotulados de “batoteiros da segurança social”) e dos imigrantes indocumentados (tidos por “ilegais”) bodes expiatórios dos males de uma economia capitalista incapaz de atender às necessidades da maioria trabalhadora.

Os democratas gostariam de reduzir a questão da brutalidade policial a um caso de algumas “maçãs podres”. De repente, os mandarins políticos desfazem-se em propostas de “reforma” da polícia e para fazer justiça contra os polícias “maus”. O Socialist Organizer apoia, evidentemente, todos os esforços para sentar no banco dos réus os assassinos de George Floyd, Breonna Taylor e Ahmaud Arbery. Porém, ainda que os responsáveis ​​pelos assassinatos venham a ser responsabilizados — e ainda estamos muito longe disso —, não é isso que vai resolver a questão do racismo institucionalizado.

Duas lutas numa

Para lutar eficazmente contra o racismo, não basta lidar com actos individuais de racismo ou assassinatos policiais. É preciso apontar ao coração das nossas instituições racistas. É preciso ligar a luta contra o racismo à luta contra o capitalismo.

Em 9 de Junho, as secções locais 10 e 34 da ILWU (Sindicato dos Estivadores e Afins) encabeçaram a organização de uma paralisação nacional de trabalho de 8 minutos e 46 segundos em homenagem às vítimas de assassinatos policiais. Apontaram, assim, o caminho a seguir por todo o movimento sindical. Como referiu o presidente da secção local 808 dos Teamsters, Chris Silvera, em declaração de apoio à acção: “Chegou a hora de o movimento sindical se pôr na linha da frente da luta contra o racismo sistémico”.

As acções protagonizadas pelas secções locais 10 e 34 da ILWU decorreram debaixo do lema da Marcha do Milhão de Trabalhadores: “Mobilizados em nosso nome”. Destas acções decorre, por sua vez, a necessidade de independência da classe trabalhadora dos partidos gémeos do patronato.

Socialist Organizer apoia o trabalho do Labor and Community for an Independent Party (Movimento Sindical e Popular por um Partido Independente, LCIP) pela construção de um partido político independente baseado no movimento sindical, enraizado nos sindicatos e nas organizações dos grupos oprimidos. Ao mesmo tempo, apoiamos o trabalho do Ujima People’s Progress Party (Partido Popular Porgressista Ujima) e de outras organizações negras pela construção de um partido político negro de massas de base operária. Este é o caminho a seguir. Este é o caminho para acabar com a repressão e a exploração capitalista.

Notas

1 Confederados eram os Estados do Sul dos EUA que formaram uma “confederação” em 1861. Esta entrou em secessão do Norte a fim de defender o regime baseado na escravatura, nomeadamente nas grandes plantações de algodão.
2 “Reconstrução” é o período de 15 anos que se seguiu ao fim da guerra civil e à derrota do Sul. A escravatura foi abolida e aos escravos libertos foram conferidos plenos direitos civis. Este período terminou com o pacto referido no texto.