Editorial do nº 18 d’O Trabalho
É Preciso um Plano de Salvação do Trabalho,
Não o Plano de Recuperação do Capital da UE!
Proibição dos Despedimentos! Salários Pagos na Íntegra a Todos!
O Plano da União Europeia serve para alimentar mais pirataria capitalista. Trará mais exploração, mais corrupção, mais empobrecimento. Um Plano de Salvação do Trabalho tem de assentar na protecção do emprego e do salário, no investimento público, no SNS e no ensino público
O Novo Banco vende metodicamente activos, nomeadamente milhares de prédios, a preço irrisório a amigos do fundo Lone Star, seu proprietário. Alguns dos amigos são criminosos condenados, como o burlão americano Lindberg. Averba assim — é o objectivo — prejuízos contabilísticos gigantes (e os proprietários e amigos criminosos averbam lucros privados gigantes). Os prejuízos do NB são, então, compensados pelo parceiro da Lone Star, o Fundo de Resolução. O Fundo de Resolução carrega-os em seguida ao orçamento da nação.
Tudo legal, está na carta de corso, no valor de 4 mil milhões, outorgada pelo governo Costa/Centeno, empurrado pela UE, ao abutre americano em 2015.
O chefe do Banco Espírito Santo, antecessor do Novo Banco, era Ricardo Salgado. A aranha, no centro da teia do capitalismo nacional. Agora, oficialmente acusado pela procuradoria de crime organizado.
Ao longo de décadas, orquestrou metodicamente a pilhagem do país e do Estado.
Pinceladas a traço demasiado grosso? O quadro que elas produzem é, porém, límpido. O de um país a saque sob a protecção da UE e do seu governo Costa, apoiado num “bloco total”, da direita ao Bloco.
Em 2015, o governo do PS, com a “geringonça”, teve a opção de ajudar os trabalhadores, que para isso votaram nele, a repor na íntegra os seus direitos roubados.
Mas preferiu outra opção: ”tentar” umas reposições, mas sem romper com a UE, sem romper com a NATO, sem romper com a dívida externa e sem romper com o patronato. Falhou.
Era previsível o resultado da opção escolhida.
O resultado foi o país ficar entregue à mais selvática pilhagem do capitalismo financeiro nacional e internacional, ver Novo Banco; e foi agravar a destruição do SNS, do ensino público e de todos os serviços que são a única coisa que ainda permite aos trabalhadores sobreviverem apesar dos salários de miséria que auferem e a política do governo mantém.
Agora, o governo está de novo ante uma alternativa
Uma das opções é responder às perguntas, simples, dos trabalhadores. Como proteger o emprego? Como manter os salários? Como salvar o SNS e combater a pandemia? Como evitar mais roubo e evasão fiscal?
As respostas resultam óbvias:
— proibir despedimentos e revogar as leis laborais da troika;
— garantir os salários de todos por inteiro e acabar com os contratos precários;
— nacionalizar a banca,
— confiscar os lucros dos evasores fiscais, Jerónimos Martins, EDPs e por aí fora;
— abrir todos os livros de contas sob controle das organizações dos trabalhadores,
— investir massivamente no SNS, ensino e transportes públicos.
É um caminho, que, como todos os caminhos, tem consequências. Por exemplo, ele não é possível sem romper com a União Europeia e a dívida externa.
Claro que há outra opção. Essa, obtém-se respondendo a outras perguntas. O que autoriza a UE? De que precisam os patrões para “investir”? Como respeitar os contratos de rapina, tipo Lone Star, energia, etc.?
São as respostas a estas perguntas que inspiram o plano Costa Silva, o “plano de recuperação” e os miríficos planos dos milhares de milhões a cair de Bruxelas.
Estas respostas são muito diferentes das respostas às perguntas que os trabalhadores fazem. São, exactamente, as opostas. Servirão para encher de novo a goela dos saqueadores e parasitas.
Asseveram-nos que não. Que, “desta vez”, será tal o maná, que vai tudo correr bem, e até sobrará alguma migalha para o povo trabalhador. Acredite quem quiser.
Entretanto, é já ensurdecedor o murmúrio de que os pequenos aumentos de salário mínimo previstos, aumentos salariais de qualquer espécie, mexidas nas leis laborais da troika, está tudo comprometido. “Por causa da crise”…
É altura de tomar posição e preparar a batalha.