Editorial d’O Trabalho nº 20, 31 de Março de 2021
A “Bazuca”, uma Ofensiva Devastadora contra o Emprego e os Salários
Governo, patronato e UE só têm medo de uma coisa: da resistência e da solidariedade dos trabalhadores. As mobilizações da Groundforce mostram que eles têm razões para ter medo. Os trabalhadores não se vão ficar. Construir a frente de solidariedade e resistência contra a bazuca patronal é a tarefa de todos os que se põem do lado do trabalho.
Entramos num tempo novo?
Mantém-se o estado de emergência eterno, inicialmente decretado para esmagar estivadores e enfermeiros em luta e que suspendeu boa parte das liberdades democráticas dos trabalhadores – sem lhes garantir as medidas de protecção sanitária necessárias, desde o investimento no SNS ao recrutamento de pessoal de saúde e professores, da redução do tamanho das turmas a testes gratuitos em larga escala, a máscaras gratuitas e vacinas rapidamente distribuídas. A indústria, a construção e a agricultura intensiva das estufas laboraram sempre. Muitos dos surtos lá assentaram arraiais.
Ao fim vão chegar as moratórias de rendas e hipotecas e os apoios que limitam as possibilidades de despedimento dos trabalhadores menos precários.
Está a ganhar forma e força uma ofensiva desenfreada contra os empregos e os salários dos trabalhadores portugueses.
Na frente desta ofensiva está a TAP, depois de retornada a capitais públicos maioritários. Piores do que no tempo da troika, os cortes brutais de salários e os despedimentos de 20%, impostos pelo “ministro mais à esquerda do governo” sob chantagem de encerramento imediato da empresa.
Pouco depois, a Groundforce deixou de pagar salários aos seus trabalhadores.
Em nome da “transição verde” da bazuca da UE, a família mais rica do país anunciou que ia fechar a refinaria da GALP de Leça da Palmeira e vender o Gás Natural a um fundo de capital estrangeiro. A EDP “trespassou” barragens transmontanas por quatorze ou quinze vezes o que pagara pela concessão e ficou-se a rir, não pagando sequer 100 milhões de imposto de selo.
Em nome da “transição digital”, a banca prepara fechos de balcões e reestruturações em força. A EFACEC anunciou planos de despedimento de uns 25% da força de trabalho.
É uma bazucada contra a classe trabalhadora .
Bazuca é o nome que o primeiro-ministro alegremente dá ao plano da UE: mas é uma bazuca apontada contra os trabalhadores deste país – e todos os trabalhadores europeus.
Como o próprio Costa, em video que difundiu, fez questão de sublinhar, o dinheiro vai todinho parar aos bolsos do capital privado – sob condições estritas: tem de servir para “reestruturar” as empresas em nome de duas “transições”: a “verde” e a “digital”.
Para quem não tiver compreendido o que isso significa, a explicação aí está, na TAP, na GALP, nos despedidos verdes de Matosinhos e Sines em nome do hidrogénio, lítio ou o que calhar a seguir, nos despedidos digitais na banca sem balcões, na EFACEC, por toda a parte.
Para os patrões, os milhões, para os trabalhadores, despedimentos em massa ou os salários “de mercado” – cada vez piores, dado o aumento da precariedade.
Salvo se, e esse é o grande temor deles todos, do Presidente, que se prepara para fazer de bonaparte se o governo falhar, ao próprio governo e ao patronato – salvo se a mobilização solidária das massas trabalhadoras lhes torpedear os planos.
A bazuca traz miséria de um lado, e mais uns Porsches e Ferraris do outro. Para viver, quem trabalha precisa da nacionalização da banca, da confiscação de Casimiros e EDPs, de investimento no SNS, na habitação popular e na educação, da reversão dos despedimentos e do aumento geral dos salários.
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