É o Povo Cubano Quem Tem Que Decidir!

Fim do Embargo Americano a Cuba!

É o Povo Cubano Quem Tem Que Decidir!

Desde o dia 11 de Julho, as manifestações que se iniciaram numa pequena cidade próxima da capital alastraram por todo o país. O governo dos sucessores de Castro viu-se confrontado com uma explosão da cólera popular à escala nacional. As palavras de ordem lançadas por milhares de cidadãos cubanos em todas as grandes cidades eram: “Temos fome!”, “Não há comida, nem dinheiro nem trabalho!” e também “Liberdade, Cuba não é vossa”.

A polícia cubana interveio brutalmente, procedendo a centenas de prisões, um manifestante foi morto.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, interveio de imediato para denunciar “um Estado falhado que oprime o seu povo”, declarando que tinha”vários planos para ajudar o povo cubano”. Nesse mesmo momento, o presidente da Câmara de Miami – onde grande parte dos emigrados cubanos se concentra – declarou que era preciso usar bombardeamentos aéreos contra Cuba. O jornal The Organizer, publicado por militantes operários americanos ligados ao Comité Operário Internacional (constituído quando da conferência mundial contra a guerra, a exploração e o trabalho precário, em Mumbai (Índia) em Novembro de 2016, reunindo 350 delegados de 28 países) denunciou a monstruosa hipocrisia do principal representante do imperialismo americano. Assim, desde 1962 que os sucessivos governos americanos impuseram um embargo a Cuba para asfixiar a sua economia. As condições do embargo foram agravadas por uma série de medidas decretadas por Donald Trump, que Biden manteve na íntegra. The Organizer realça, muito justamente, que a ajuda que o movimento operário americano deve dar ao povo cubano consiste em exigir o fim imediato do embargo económico e a abolição de todas as sanções: “Deixem o povo cubano respirar!

The Organizer publica igualmente a contribuição de um militante argelino, que destaca que não é só nos Estados Unidos, mas à escala mundial, que é dever de todos os que se reclamam do movimento operário e da democracia pôr fim à intolerável “pressão sobre o povo e o Estado cubanos”. Acrescenta ele; “Está, contudo, fora de questão ilibar o governo castrista da sua responsabilidade nesta situação. Responsabilidade que se ilustrou particularmente depois de 2010, quando se levaram a efeito medidas anti-operárias e antipopulares, que se foram conjugar com as consequências do embargo para tornar a vida das massas cubanas impossível. Estas medidas, favoráveis às camadas superiores do Estado e aos investidores, criaram uma desigualdade social profunda, atentando, do mesmo passo, contra as conquistas da revolução, nomeadamente nos sectores da saúde e do ensino público.

A desvalorização da moeda cubana, as “reformas” gizadas para ampliar o sector privado, a criação de lojas em que se podem obter os bens que faltam no resto do país desde que se pague em divisa estrangeira, vieram agravar ainda mais a situação. Aliás, nas manifestações, regra geral pacíficas, os manifestantes tomaram por alvo algumas dessas lojas. 

É necessário, indubitavelmente – mas fora do âmbito deste artigo – voltar a olhar para as condições em que a revolução cubana e o regime a que ela deu origem se desenvolveram. Uma coisa é certa: a igualdade era, tanto como a soberania nacional, uma das aspirações da revolução. Hoje, o regime, muitas de cujas medidas agravam as desigualdades, responde às manifestações pela violência e com a repressão. O diário britânico Financial Times (de 16 de Julho) citava um manifestante, um empregado a ganhar menos de 100 euros por mês: “Sempre fui partidário de Fidel. Mas o presidente actual, que nem sequer participou na revolução, não presta para nada.

A independência e a soberania de Cuba, conquistadas pela revolução, só podem ser defendidas pelo povo trabalhador. Não há luta efectiva contra o imperialismo mundial sem reconhecimento pleno do direito dos trabalhadores a organizarem-se e imporem as suas reivindicações e, portanto, sem o embargo ser levantado: deixem o povo cubano respirar!

La Tribune des travailleurs  nº 300, 28 de Julho de 2021 (François Forgue)