Os Talibãs criminosos regressaram ao poder graças ao apoio dos Estados capitalistas
O acordo entre os Estados Unidos e os talibãs (assinado em 29 de Fevereiro de 2020 no Qatar – NdR) não tinha outra finalidade senão instaurar o “emirado islâmico” (o Estado talibã – NdR). Ficou claro quais eram realmente os objectivos da burguesia mundial e da sua intervenção imperialista em nome da “democracia”. O desmoronamento, em poucos dias, do governo fantoche de Ashraf Ghani, no qual a mãozinha dos Estados Unidos e seus aliados esteve grandemente implicada, seguido do regresso dos talibãs ao poder, deram o mote para a instauração do “emirado islâmico”. Substituir um poder por outro da mesma natureza (se bem que com formas diferentes) segundo as necessidades e interesses do capital, não é, nas relações internacionais capitalistas, novidade nenhuma.
No propósito de instaurar o mais rapidamente possível este “emirado islâmico” ao qual o capitalismo mundial abriu caminho, sucedem-se as manobras para juntar as forças e personalidades necessárias ao projecto. O anúncio pelos dirigentes talibãs de uma “amnistia geral”, a presença de alguns dirigentes de facções islâmicas e étnicas vindas do Paquistão e as negociações com os dirigentes deste país condizem com o intento de unir ao eixo dos talibãs chefes mujahidines, tecnocratas e elementos saídos do governo fantoche anterior.
As mulheres, despojadas dos seus direitos em todos os domínios da vida social
As consequências imediatas da instauração do regime teocrático dos talibãs, bem como da liquidação das liberdades democráticas (já em grande parte canceladas), consistem, para as mulheres, na privação completa dos seus direitos em todos os domínios da vida social. Isto, quando a defesa das mulheres serviu de pretexto ao imperialismo americano para justificar a sua agressão militar há vinte anos! O atroz e inumano destino infligido ao Afeganistão é uma nova demonstração da execrável natureza do domínio burguês, das suas instituições, da sua pretensa “defesa dos direitos humanos e da civilização” – que é, isso sim, defesa da barbárie de um sistema que espezinha a vida e a dignidade humanas em proveito dos seus interesses egoístas.
Os trágicos acontecimentos dos últimos dias e o domínio brutal dos talibãs com a ajuda das grandes potências capitalistas e dos seus aliados regionais estilhaçaram a grosseira ilusão espalhada pela “sociedade civil” e certos “intelectuais de esquerda” de que, apoiando a intervenção imperialista, se podia salvar o povo dos talibãs obscurantistas. A experiência do povo afegão, a barbárie que lhe foi imposta reflectem esta amarga verdade: o capitalismo mundial e as potências imperialistas fazem guerras sangrentas, exploram, espalham a desigualdade e a pobreza e não querem saber para nada do bem-estar e da liberdade dos trabalhadores e das massas pobres.
Sendo certo que o domínio obscurantista dos talibãs impõe, em todos os domínios, um recuo sem precedentes à sociedade e inflige um golpe tremendo ao movimento anticapitalista e pela igualdade da classe operária e a todos os adeptos da liberdade, assistimos também a isto: o povo não aceita. A rebelião e os corajosos protestos do povo, sobretudo das mulheres e dos jovens, arriscando a vida, mostram que os talibãs não conseguirão impor o seu regime autoritário e as suas crenças medievais. Mais tarde ou mais cedo, o reino destes fascistas e dos seus padrinhos internacionais irá esbarrar no protesto social, nos movimentos radicais, nomeadamente mo movimento da classe operária, das mulheres, dos jovens e de todos os trabalhadores.
Mais tarde ou mais cedo, os talibãs enfrentarão as reivindicações do povo pelo pão, o trabalho e a liberdade
Se, hoje, a segurança é a principal preocupação do povo, não resta nenhuma dúvida de que, mais tarde ou mais cedo, os talibãs se irão confrontar com as reivindicações do povo pelo pão, pelo trabalho e pelos direitos democráticos. A reivindicação “pão, trabalho e liberdade” será a base da torrente que destruirá as forças burguesas e os seus apaniguados.
Os talibãs, tal como as outras correntes islamistas, não são apenas produto da ignorância, das crenças e do atraso: eles são uma fracção das forças da burguesia nas relações capitalistas que regem o mundo. É partindo desta análise, e não da aparência destas forças e das suas manobras, que as forças revolucionárias que lutam pela igualdade se têm que dispor. O derrube do regime obscurantista dos talibãs e do seu “emirado islâmico” só é possível pela organização colectiva da classe operária e de todos os trabalhadores, associada aos outros movimentos progressistas e igualitários.
À medida que avançarem os atentados contra as liberdades e alastrar a repressão, reforçar-se-á e ganhará coesão a resistência contra os talibãs. Estamos convencidos da vitória final dos trabalhadores e dos oprimidos sobre os talibãs criminosos e os seus padrinhos internacionais.