4 de Março de 2023 – Manifestação de massas dos professores no Porto e em Lisboa

Professores e Profissionais de Educação

Novas Manifestações de Massas

“Não Paramos!”

Rui Costa Santos, na manifestação do Porto

Frente às contas certas do governo, quem trabalha nas escolas, professores e auxiliares de educação, que têm como seu trabalho, entre outras tarefas, ensinar a fazer contas, apresentam outras contas. Apresentam a conta dos anos de serviço que lhes foram subtraídos, as contas das despesas que os professores deslocados por décadas dos seus locais de residência têm de suportar. Por isso hoje, uma vez mais, marcharam pelas ruas do Porto e de Lisboa, docentes e auxiliares de educação. A eles se somaram, encarregados de educação – junto de quem o governo procurou inicialmente apoio para derrotar a mobilização dos trabalhadores das escolas, tendo fracassado nesse intento, esquecendo talvez que muitos professores são obviamente encarregados de educação porque têm filhos a estudar – assim como muitas outras pessoas, trabalhadores solidários com a luta pela escola pública.

De acordo com números da polícia, transcritos na notícia do jornal Público, foram entre 15 e 20 mil no Porto. No entanto, para Mário Nogueira, da FENPROF, entre as manifestações do Porto e de Lisboa terão participado cerca de 80 mil pessoas. Se, na manifestação de Lisboa, terão estado, de acordo com a notícia do Público, «professores de Leiria, Castelo Branco, Santarém, Lisboa, Portalegre, Évora, Beja e Faro», à do Porto teriam vindo «de Viana do Castelo, Braga, Bragança Vila Real, Aveiro, Coimbra, Viseu e Guarda». 

Na manifestação do Porto, uma professora do ensino básico disse-nos que, na cidade do Porto, esta terá sido a maior manifestação até ao momento. A mesma professora contou-nos que, na sua escola, do concelho de Vila Nova de Gaia, todos os docentes são obrigados a fazer diariamente três horas de serviços mínimos, tendo já diversos professores sido alvo de processos disciplinares por recusarem fazê-los. Eram visíveis múltiplos cartazes denunciando o abuso dos serviços mínimos para bloquear o direito à greve. 

Para esta professora, uma das principais razões para a indignação dos docentes era também a arbitrariedade que o ministério da educação pretendia introduzir para a selecção dos professores, ao permitir que, baseado num perfil desenhado pelo director da escola ou agrupamento, o escalonamento nacional dos professores baseado no tempo de serviço e na avaliação pudesse ser subvertido, principalmente quando temos hoje em dia um modelo de organização escolar em que, em vez dos antigos conselhos directivos como órgão colegial, temos um director plenipotenciário, que muitas vezes parece agir como se a escola fosse uma fábrica de que ele é o dono. 

Outra manifestante, entrevistada pelo Jornal de Notícias, diz a este órgão de imprensa ser a quarta manifestação em que participa e acusa o governo de fazer de conta de que não se passa nada. Com 24 anos de serviço encontra-se no quarto escalão e sabe que nunca alcançará o topo da carreira. Aliás, outra professora trazia um cartaz dizendo ter 17 anos de serviço e encontrar-se sempre no mesmo escalão. Outra professora, entrevistada igualmente pelo JN, denunciava o facto de a «mobilidade por doença se ter tornado num concurso» e por isso não terem vagas nas escolas. 

Se, no início da manifestação, na Praça Marquês do Pombal, uma professora nos dizia que tinha medo que esta manifestação tivesse menor participação, aquilo que pudemos ver foi manifestantes que, junto dos mais diversos sindicatos, demoraram mais de uma hora a chegar e que, ainda segundo o Público, «quando a frente do protesto chegou, pelas 16h45, ao destino, na Avenida dos Aliados, os últimos participantes da marcha ainda não tinham saído do local de partida». Assim, num percurso que se estende por mais de dois quilómetros, entre a Praça Marquês de Pombal e a Avenida dos Aliados, tivemos milhares de manifestantes que, entre palavras de ordem como «não basta reuniões, é preciso soluções», mostram estar mobilizadas para prosseguir uma luta que, se vitoriosa, poderá abrir caminhos a outras sectores da classe trabalhadora.