A Apostólica Revelação

Para ajudar a “enquadrar” o debate que tem dominado os titulares da comunicação social sobre os crimes sexuais na e da igreja católica, sugere-se um exercício.

Antes de ler ou reler o relatório da comissão dita independente (nomeada pela hierarquia da igreja) sobre os “abusos sexuais” na igreja, assim como todas as notícias e comentários que doutos comentadores e autoridades políticas têm escrito e dito sobre o assunto, risque-se o sujeito das frases. Apague-se, enegreça-se, de modo que não se perceba quem é o autor dos factos descritos.

A seguir, leia-se.

As descrições são horrendas, sinistras. E todos percebem que apanham apenas uma fina superfície.

No fundo, porém, os factos são simples e claros: não estamos perante “abusos”. Estamos perante usos. Usos de uma organização, obviamente, criminosa. Mas uma organização bem definida.

Como já se sabia, e agora ficou escrito – em Portugal; já o fora noutros países – , esta organização criou, ao longo dos séculos, sistemas virados para a satisfação sexual dos seus chefes e acólitos. Para isso, geria uma rede de instituições e métodos, que tinham como um dos seus fins recolher menores indefesos, desamparados, geralmente oriundos das classes pobres, e pô-los à disposição dos seus funcionários. Conventos, orfanatos, casas pias…

E de tal leitura, em que se deixou anónima a organização de que se fala, que ilações tirará a pessoa média? Não custa adivinhar: proíba-se esta organização para todo o sempre, metam-se os cabecilhas na prisão, deite-se a chave ao mar, castiguem-se os acólitos!

Continuando o exercício, destape-se o nome do autor dos factos relatados. E contemple-se, com espanto, as coisas inacreditáveis que dizem os comentadores, articulistas e presidentes da República médios.

Tiram a ilação óbvia? Não. Pelo contrário. Pedem aos mesmos cabecilhas que “peçam desculpa” às vítimas; e que punam os seus próprios acólitos; e que “salvem” a sua organização criminosa.

E desses todos que se pronunciam, os que mandam ainda mandam gastar dezenas de milhões de euros de dinheiro dos impostos do povo na organização de um grande “congresso mundial” em que esta organização criminosa se propõe juntar em Lisboa… milhares de jovens, muitos decerto menores!

​Quando o mundo fica a saber que afinal sempre há uma organização que “come criancinhas ao pequeno almoço”, meio mundo ajoelha…