Sessão em Defesa das Mulheres Afegãs em Lisboa

Encontro em defesa das mulheres afegãs, perseguidas e reprimidas pelo regime dos talibãs

Realizado em Lisboa, a 26 de junho, na sede da UMAR

Foi oradora convidada Ranna Amani, activista no exílio do Movimento Espontâneo das Mulheres Afegãs (SMAW na sigla inglesa), refugiada na Suécia. 

O movimento de resistência Movimento Espontâneo das Mulheres Afegãs surgiu espontaneamente nas ruas de Cabul e de outras províncias quando o regime talibã proibiu a escolarização das raparigas e começou a desmantelar todos os direitos das mulheres. O exército de ocupação dos EUA e da NATO entregara o poder aos talibãs em 2021 nos termos dos acordos celebrados entre a administração Trump e a guerrilha talibã, em Doha, um ano antes.

O encontro de Lisboa foi o primeiro de uma digressão europeia de Ranna Amani, organizada pelo Comité Internacional de Defesa das Mulheres Afegãs. Depois de Lisboa, ela falará em Bilbao (Estado espanhol), Marselha (França), Turim (Itália) e Genebra (Suíça). 

Ranna Amani relatou como centenas de mulheres têm sido sequestradas, raptadas, violadas nas masmorras públicas e secretas do regime. Muitas desaparecem sem deixar rasto. Muitas reaparecem, mortas. 

Inicialmente, a força do movimento de resistência das mulheres conquistou espaços de liberdade de manifestação e informação que lhe permitiram uma expansão rápida por todo o país. Depois, a repressão do regime abateu-se, feroz. As raparigas são agora impedidas de estudar além da instrução primária. As mulheres são sistematicamente despedidas da função pública, das escolas, dos hospitais. São apagadas da vida pública e de toda a existência independente. Impõem-se-lhes regras de vestuário e conduta.

O Movimento Espontâneo das Mulheres Afegãs trabalha actualmente, em grande parte, na clandestinidade. Mantém “casas seguras” para mulheres e escolas clandestinas para raparigas, com professoras voluntárias. 

O movimento condena veementemente o imperialismo dos EUA como principal culpado do destino há quarenta anos reservado ao povo afegão, que agora culmina na eliminação completa dos direitos das mulheres. O movimento pede à “comunidade internacional” que se abstenha de dar dinheiro ao regime talibã a pretexto de ajuda humanitária. Nenhuma dessa ajuda chega às mulheres, impedidas, sequer, de trabalhar nas organizações de ajuda e humanitárias. A “ajuda” apenas sustenta o brutal e misógino governo dos talibãs. 

Disse Ranna Amani que

o povo do Afeganistão, especialmente as mulheres, não podem aceitar o Emirado Islâmico do Afeganistão ou governo talibã. A conversa, que hoje circula por alguns países e por círculos da oposição no exílio, acerca da formação de um “governo inclusivo” significa fazer compromissos em matéria de direitos humanos, direitos das mulheres e liberdades do povo do Afeganistão. Nós cremos que as atrasadas crenças religiosas dos talibãs os tornam incapazes e sem independência para acolher os direitos das mulheres e as liberdades políticas e civis.

A única via é, por isso, lutar pela instauração de um governo democrático e laico saído de eleições gerais e livres. Tão-pouco os partidos jihadistas e islamistas ou os restos corruptos do governo do tempo da ocupação americana representam o povo e as mulheres do Afeganistão. Pouco diferem dos talibãs e do Daesh. Não se lhes dê nenhuma participação no governo talibã a pretexto de formar um “governo inclusivo” que legitime e promova um regime misógino e teocrático no Afeganistão. Os partidos jihadistas e os senhores da guerra da “Frente Nacional de Resistência” chefiada por Ahmad Massoud, todos eles acusados de crimes de guerra e violações dos direitos humanos, têm de ser levados a tribunal, tal como os talibãs.

Por fim, Ranna apelou a 

– apoiar o Comité Internacional de Defesa das Mulheres Afegãs, formado em Paris em 2021;

– lutar, em todos os países, pela concessão de asilo político às centenas de manifestantes perseguidas e ameaçadas pelos talibãs;

– contribuir financeiramente para as crianças vítimas da guerra e as manifestantes presas;

– doar generosamente para as “casas seguras” e os centros de ensino clandestinos criados pelo Movimento Espontâneo das Mulheres Afegãs.

A seguir à intervenção de Ranna Amani, as e os presentes fizeram perguntas e comentários, dando azo a um debate interessante e enriquecedor sobre a vida e a luta das mulheres no Afeganistão.

No final, as e os presentes prestaram sentida e vibrante homenagem às mulheres afegãs, aplaudindo longamente Ranna Amani, mulher e resistente.

Apela-se a todas e a todos para que enviem contribuições generosas para o Comité Internacional de Defesa das Mulheres Afegãs, formado em Paris em 2021, na sequência de uma carta do Movimento Espontâneo das Mulheres Afegãs.

Conta «Comité international de défense des femmes afghanes»
IBAN: FR76 1027 8060 5000 0213 5650 174
BIC/SWIFT: CMCIFR2A